domingo, 21 de julho de 2013

the waiting room




Sentado, eu leio mais uma revista enquanto aguardo minha vez. Sem guichê, sem controle. Não ouvi ninguém chamando pelo corredor e, mesmo assim, um moreno alto e bem vestido entrou por aquela porta enfeitada de amarelo. A porta loira, com ferrugens nas dobradiças, fez um ruído macabro de desuso musicado pelo tempo - não é sempre que ela se abre e deixa alguém entrar.

Uma moça de cabelos castanhos sentou do meu lado e comentou algo sobre o tempo, sobre o clima. Um rapaz me perguntou sobre drogas. Uma mulher de olhos verdes disse algo sobre o medo e o pôr-do-sol.

Olho para a porta loira. Fechada.

Todas essas pessoas, cedo ou tarde, acabavam entrando em portas diferentes, de cores distintas. O que tínhamos era apenas um relacionamento descartável. Uma conversa rápida de elevador. Um aperto de mão nervoso, na poltrona durante o pouso do avião, um conforto mútuo. Uma rápida conversa sobre futebol enquanto a moça prepara o churros. Um papo furado na fila do banheiro.

Sem calendário de modelos femininos, sem relógio pendurados na parede.

Dou outra espiada rápida na porta amarela. ainda fechada!

É a sala de espera da vida; uma carta, uma mensagem, uma show, um abraço, um beijo, uma visita, um bebê, uma purificação, uma epifania, um salário, um bom-dia, o almoço, uma viagem, o pão quentinho, o leite fresco, um telefonema, um amor. Sempre tem alguém esperando algo.

A espera mede o tempo ao seu próprio modo.

A porta abre, vi alguém sair.

A porta amarela e enfeitada fica entreaberta.

Um homem uniformizado conversava com as pessoas. Ele usava um crachá com letras ilegíveis, estava copiosamente desgastado. Esse homem me fitou nos olhos, depois olhou pra prancheta em sua mão. Ele franziu o cenho, um gesto de incredulidade. Ele folheou as páginas e perguntou:

- Sr. Há quanto tempo está nessa sala de espera?

- Quatro anos, talvez. Espero o tempo que for necessário!

- Qual é a cor da sua porta?

- Amarela, aquela porta entreaberta.

- Por quê não entra em sua porta amarela?

- Assim sem bater?

- Peça licença.

- Não sei... Já olhei pela brecha...

- É algo incrivelmente nobre esperar esse tempo todo, mas é inadmissível não reagir com a oportunidade. Você esperou esse tempo todo e agora se esconde atrás desse medo ridículo?

Envergonhado, respondi:

- É, acho que sim.

- Acho que você se apegou a esperança e as revistas da sala de espera. Costuma acontecer. Você ensaia frases na frente do espelho do banheiro que nunca irá dizer. Acaba engolindo sonhos que nunca viverá. Você fez do sofá uma cama e agora esse tumor preguiçoso te impede de sonhar de verdade. Ridículo!

- Já disse que olhei e foi o máximo que consegui!

O homem espirou todo ar de seus pulmões bem forte, como quem desiste de empilhar cartas no vento forte. E disse:

- Olhar o agasalho da vitrine não te cobre do frio!

Enquanto catava os fiapos imaginários da minha blusa verde, vi de relance alguém entrando por aquela porta, a porta enfeitada, a porta amarela, a minha porta loira.

O ruído dela se fechando foi tudo que me restou. Parece ser o refrão da minha vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário