segunda-feira, 14 de abril de 2014

Óleo e água.




Eu e ele somos como óleo e água. Fora o sobrenome, sangue que desliza em nossas veias e o redemoinho na parte de trás da cabeça, não temos nada em comum. Minha vovó chora baixinho lá no quarto, garantindo ser a última vez que ele me ofendeu. Meu avô pede calma. Minha mãe reza um pai-nosso, pedindo em oração que ele não me mate e justifique tudo em alguns capítulos da bíblia, onde Abel é morto por Caim. Meu pai sempre chega tarde do trabalho, cansado demais para essas coisas de família - eu não o culpo, a vida já foi muito injusta com ele. Primeiro ele fala nervoso, com o punho fechado, dizendo coisas que eu não sei bem o que é. Eu fico triste. Minha mãe agora pede pra eu dormir com a porta trancada - sempre com aquele semblante que implora uma necessidade de vida, porém, sem exigir questionamentos. Uma semana depois ele me abraça, sem pedir desculpas, e me trata como se eu fosse a única pessoa do mundo. Eu o amo ainda mais. Alguns dias depois lá vem aquela cara fechada, o senho franzido e o punho fechado. Foram tantas vezes que resolvi deixar a chave no trinco da porta do meu quarto. Eu sei que eu fui responsável por alguns cabelos brancos na cabeça da minha mãe; como naquela vez que quebrei o braço; ou quando fui pai; ou quando passava os dias em casa bebendo vodka pura, assistindo o DVD do Exaltassamba; mas isso é demais. Eu quero paz. Será que ele quer minha ajuda? Por quê ele não conversa comigo? Será que ele ainda me ama? Sei lá, sinto os sentimentos ficarem embaralhados - passei a ama-lo, mas sem gostar.

Irmão, por favor, não deixe a morte me abraçar pra você me entregar flores, que eu te prometo destrancar essa porta e jogar a chave fora, e se isso for impossível, eu invento três janelas pra você entrar no mundo do meu quarto.

3 comentários: