sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Talvez o amor seja isso; VII



Uma mulher, semi nua, de cabelos loiros e encaracolados deslizava preguiçosamente nos braços de um homem forte, com uma armadura rasa e escassa. Ela repousava o olhar para sentir cada toque grotesco do rapaz. Ele a fitava e a submissão naquele olhar o excitava. O peitoral de ambos tinha a saliência sexual que exteriorizava o desejo e o prazer de uma perversão no meio da floresta, em plena natureza. Esse casal selvagem estava pintado em uma garrafa plástica vazia de catuaba, jogada no canto do quarto junto com dois copos sujos, um cinzeiro cheiro de quimbas e um maço de cigarro quase vazio.

O quarto perfumado com cigarro acolhia dois jovens embriagados e felizes. Eles comemoravam o nó reatado, a volta. A farra era a prova que a vida sempre dá uma segunda chance. E então o amor calçou seus velhos sapatos e andou sorrindo por aí, admirando ioiô-ioiôs e bumerangues, sussurrando por gestos a frase: "tudo que vai, um dia volta."

O rapaz, feliz e completamente apaixonado, só queria demonstrar todo seu amor de uma maneira mais sexual e violenta. O vestido florido dela já estava no chão, e ele beijava a barriga dela com vontade, descendo bem devagarinho. Depois de envernizar todo o tronco daquela macieira magra ele ficou surpreso quando a moça disse:

- Não, meu bem, hoje não. Por favor? - implorou a negação de uma vontade que ela mesma tinha.

Ele deixou escapar um riso desacreditado.

- Eu não lembro há quanto tempo estamos de casados, mas depois de tanto tempo, meu bem, eu sei que só existem dois motivos nessa vida que fariam você desistir de uma trepada de reconciliação.

Ela sentiu brasas por toda a maça do rosto.

- O primeiro motivo seria por vergonha. - disse o rapaz, sorrindo um riso bobo. - Você está peluda igual uma macaquinha, amor?

- Não, seu bobo! Olhe você mesmo. - e tirou a calcinha. - Lisinha como você adora, Rodrigo.

- Então sobra apenas o segundo motivo, você está de chico?!

- É, o sinal está vermelho - ela disse desapontada.

Ele riu de novo. Como se o riso fosse uma corda para falar, um impulso, uma necessidade natural como respirar.

- Não para mim, eu vou amar você o mês inteiro à partir de hoje. Foda-se a cor do sinal! Estou a 200 km/h e estou sem freio. E nesse momento estou derrapando em todas as suas curvinhas magricelas. Não vejo, graças a Deus, um acostamento cheio de mato para amortecer minha queda, pois hoje eu quero ver é sangue, muito sangue! - dessa vez ele gargalhou até perder o fôlego, era o aplauso ruidoso da própria piada, muito engraçada por sinal. Depois ele refletiu e disse:

- Eu te amo em todos os períodos da sua vida, meu bem, e vou fazer você gozar em todos eles.

E então ele enfiou, gentilmente, dois dedos dentro dela. Enquanto ele mordia a própria boca em um sinal mentiroso de capricho e cuidado, ela tinha uma cara de preocupação, mesmo que exagerada. Ele retirou seus dedos disfarçados em pinceis e aquela tinta vermelho-ocre-escuro, que banhava o indicador e o dedo médio, escorria viva, em gotas. Como em um ritual indígena, ele pintou o rosto do lado direito, fazendo duas listras retas e gordas na bochecha. Depois repetiu o rito e lambuzou todo o lado esquerdo, copiosamente. Na terceira vez, ele fez um coração em sua própria testa.

Então o rapaz, banhado em sangue feminino, abriu bem a palma de sua mão esquerda e a lançou em sua boca que gritava, abafando o som. Repetiu isso algumas vezes e dançava ao mesmo tempo, feito uma festa de uma tribo nativa para pedir chuva para a aldeia, ou adorar o deus-sol de algum povo aborígene selvagem.

Ela sorriu um tímido riso e tentou esconder os dentes. Ela olhou a garrafa vazia, os cigarros amassados com força dentro do cinzeiro, os copos sujos, viu seu vestido florido deitado de uma maneira apressada no piso do quarto. Ela observou o vento alisando devagar a cortina branca de rendas leves, soprando um assobio musical e rítmico pela janela daquele quarto imundo e sentiu no fundo de sua alma que estava acontecendo, ali mesmo, um daqueles momentos que você se lembra pelo resto da sua vida. Fez uma prece silenciosa e agradeceu a Deus por isso, qualquer deus.

- Seu bobo, eu te amo - disse ela.

- [...]

E ele tinha sua própria maneira de responder.


Talvez o amor seja isso; fazer de um dia qualquer um casamento, e do reatar, um inesquecível programa de índio.

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