domingo, 14 de julho de 2013

Sua blusa indiana vermelha




Naquela noite fria e sem nuvens, eu reuni alguns grãos de paciência e dedicação para colher pequenas flores coloridas e te entregar. Elas justificariam meu atraso e lhe trariam algum sorriso. E foi assim que eu te conheci, Júlia. Você estava usando aquela blusa indiana vermelha cheia de flores e eu pude sentir todo o perfume delas, como uma primavera particular, como um jardim só seu. Sua pele enegrecida por melaninas e a contrariedade do seu cabelo liso me fazem acreditar que você é a promessa de algo novo, Júlia. Percebi o seu olhar e vi a cor de grama nova e bem molhada, de algas marinhas que enrolam meus sonhos e espremem o melhor deles em um copo limpo como o dia. Dentro do miolo do seu olho verde, no quadro negro da sua pupila, eu vi desenhado o meu reflexo sorrindo um riso largo e gordo. Nós éramos espectadores da dança das águas. Era uma mistura de bailado com cores fortes, um arco-íris nadando no carrossel aquático. E ouvindo alguma música de protagonistas de novela, eu aproximei o meu rosto do seu e descobri como é bom te olhar de pertinho e sentir o cheiro do seu hálito morno. Seu olho deitou um sono leve, implorado silenciosamente um beijo, e então eu te beijei, Júlia. A mesma cor dos olhos, o mesmo signo. Seu jeito desengonçado de andar, sua alçada postura de sentar, seu jeito bem feminino de falar, sua mão sempre morta ao ar, sua voz de fazer amizades com cachorros e com bebês, tudo resumido em um beijo demorado, suave e sem pressa. Seu beijo foi a marca d'água para uma rua sem saída. Júlia, você tem aquele jeito de sempre terminar o beijo passeando sua língua pela minha gengiva, como uma assinatura pessoal, e isso me fez sorrir. E isso me faz querer orbitar na argola preta do seu piercing de nariz.

Hoje eu substitui as pequenas flores pelo pôr-do-sol, mas o atraso, o riso, a pele negra, as sensações, o cheiro, o hálito, o signo, o verde da grama, a música, a rua sem saída, o beijo e a língua na gengiva ainda estavam lá, junto com as flores e a primavera da sua blusa indiana vermelha que eu gosto tanto, Júlia.

Um comentário:

  1. Linnndo :') , apenas L-I-N-D-O. E só pra você saber, as flores não justificaram o seu atraso não kkkk, ok, justificaram sim, cada encontro, cada sorriso que você me deu, cada piada, cada minuto com você justificou, e muito *-*, mesma cor dos olhos, e o mesmo signo kk >< Obrigada por isso, e pelo pôr-do-sol maravilhoso <3

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