sábado, 27 de dezembro de 2014

Querida Karen, XV




Domingo, 28 de dezembro de 2014.
Querida Karen,
 
 
O mês de dezembro é definido por frios tórridos, ventos sem fôlegos e cigarros saudáveis. O décimo segundo mês do ano é contraditório e íntegro - até na definição. Aniversário. Amigo-oculto. Natal. Ceia. Orações. Karen, o verão é sem sol e sem amores. As vezes a chuva desaba sem delicadeza, e eu consigo dormir bem nesse ataque confortável. As pessoas me enjoam e o mês é todo cinza. Estou tragando um bom vinho e ouvindo música no rádio. Arrumei um bom emprego, gosto do que faço. Ganhei os melhores boquetes este ano. Transei com quase meia centena de garotas, e claro que não fiz todas elas gozarem. Que se fodam! Terça-feira passada eu beijei uma garota; olhos verdes, católica, cabelos loiros. Ela é a promessa de alguma coisa nova. Caso antigo, eu gosto disso. Não sei mais o que dizer. O desinteresse em te dizer algo é incrivelmente agradável. Não vou perguntar como você está porquê o desleixo é recíproco e unilateral, como o mês de dezembro é, em toda a sua maldita redundância em fazer tudo ser assim tão diferente.
 
Unfaithfully yours,
Hank.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Existem dois tipos





Era sexta-feira com chuva. Bárbara, quando eu te vi naquele vestido listrado e curto eu me arrepiei. Me senti castrado de tanto tesão. Percebi que existem apenas dois tipos de mulheres: as que acordam cedo para ver o sol nascer, e as noturnas - aquelas que não dorme até ele acordar. Você é uma delas. E isso me deixou paralisado. Não te beijei, isso seria gastar muita energia, e quando você umedeceu os próprios lábios eu percebi que ia precisar toda que eu tenho. Te levei em um motel barato, mas com toalhas limpas. A evidência da ansiedade ficou evidente quando eu emperrei a chave na fechadura e não consegui abrir a porta. E então você percebeu. Me olhou e deu um riso que me confortou, mas não por completo. E quando eu chamei a camareira para resolver esse problema, a porta se abriu. A primeira coisa que você disse quando entramos no quarto foi:

- Nunca estive em um quarto de motel antes.

E então eu percebi que seria inesquecível. E isso não ajudou a evaporar o suor frio que banhava minhas mãos. O quarto de número 207 teria mais uma história louca pra contar se pudesse falar. Tentei me livrar daquele sentimento, mas seria como um fumante se esquivando do cheiro amargo da fumaça que sai da sua bocaa e narinas.

- Tudo bem, boêmio.

Você disse quando eu não consegui ser um homem quando precisava ser. Eu só conseguia pensar em meter uma bala no meio da testa das araras-azuis que não querem transar para salvar a própria espécie. Por algum motivo eu pensei na maravilha da lua. Ela reflete em todos os lagos e rios do planeta, porém ela é apenas uma. Incrível.

E então, Bárbara, você me abraçou e me fez um cafuné, depois disse:

- Está tudo bem mesmo. Eu não estou aqui só pelo prazer.

Incrível também como esse tipo de honestidade sexual me deixa extasiado e encantavelmente duro. Eu foderia você a noite inteira, Bárbara. - e foi o que fiz. Não queria parar. Não fiquei saciado só de pensar que a satisfação é a morte do desejo. E então eu continuava admirando o mamilo do seu peito, as melaninas do seu corpo e surfava nas ondas do seu cabelo preto. Eu suava, e tentava recompensar sugando toda a saliva da sua boca.

Você gemia e gostava de apanhar como uma puta, e eu gostei disso. E depois que você pediu para que eu gozasse dentro da sua boca eu pensei, de novo, que só existem dois tipos de mulheres: as que sentem nojo, se regram e limitam o prazer, e as que estão em um relacionamento saudável com seu companheiro. Que mulher incrível você é, Bárbara.

Eu estou aqui no quarto ouvindo Jack Johnson e bebendo vodca com gelo e água. Estou com saudades, Bárbara. Não vou escrever mais uma vírgula porque eu sei que nostalgia não é um sentimento que devemos sentir todo dia e, infelizmente, é o que vem acontecendo.

Existem também dois tipos de homens: os filhos-da-puta, e os filhos-da-puta que escrevem sobre o sentimento que sentiu em um dia de chuva que uma sexta-feira pôde dar.