sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cada parte do seu corpo.



Vi o arco-íris ficar sépio quando reparei  no degradê da sua úngula, seu esmalte forte tirou todas as cores do meu mundo. Um daltônico, só enxergo as cores das tuas tintas. Não notei sinal algum de leuconíquia em suas unhas, sinal que seus dedos apontam somente em direção a verdade. Tombei quando meus olhos acompanharam todas as curvas das linhas na palma da sua pequena mão. A mesma mãozinha que agarrou a minha e me impediu de ir embora, e hoje insiste em me dar tchau. Isso me matou várias e várias vezes. Você é uma criminosa, fez genocídios dentro de mim. Sua munheca, sempre com várias pulseiras largas demais para um braço tão fino e magro, faziam um bagulho engraçado quando encostavam umas nas outras e compunham uma canção magnética que fazia o meu coração de ferro ir de encontro com a volta do seu braço. Sou um politeísta pra religião do seu corpo, acredito em todos os seus sagrados abraços. Seu ombro não é mais aeroporto para minhas lágrimas, seu cangote já não é canudo para meus lábios. Seu coração e tímpano explodiram de tanto ouvir o eco da mesma nota musical, você bateu demais em uma tecla tão desafinada. Se suicidou com a própria clave de sol que musicou uma canção de amor. Teu olhar já duvidada da sombra dos meus gestos, a desconfiança foi coroada com o título de infidelidade. Pele branca, cabelo com pontas-duplas, sardas e pintas. Posso fazer um esboço perfeito da sua silhueta com um lápis inapropriado para desenho. Posso te pintar com cores primárias, aquelas do arco-íris que não enxergo há um bom tempo.





terça-feira, 14 de agosto de 2012

Saudade, um pecado mundial.



Afim de satisfazer minha lascívia, te devoro! Se olhasse uma estrela cadente rasgando o céu, você seria meu único pedido. Meu egoísmo e minha avareza não poderiam palpitar ou tentar argumentar contra minha real vontade. Se encontrasse uma lâmpada e de lá saísse um gênio, você seria meus três desejos. Meus caprichos não tem espaço perto do meu sonho. Meu apego e valorização sobre a pinta do seu seio faz de mim teu escravo. Minha luxúria é inquilina do seu corpo, você é o meu melhor filme pornô. Sinto que vou explodir, mas não sacio essa vontade de comer você em todos os cômodos da casa. Essa dieta faz minha gula parecer inofensiva e saudável. Sinto inveja do seu urso, do seu cobertor listrado e com flores, do seu travesseiro de pena de ganso. Pudera eu ter a certeza de sentir sua presença no dia-a-dia. Não controlo essa vontade de trocar de lugar com sua escova de dentes velha ou seu batom de cor forte, só assim beijaria sua boca e língua todos os dias. Eu, narcisista que sou, fico surpreso com minha falta de soberba quando você está por perto. O reflexo do espelho não é mais tão importante, minha vaidade ausentou-se para de baixo do tapete junto com toda sujeira do meu espírito, pois você filtra minha alma e cega meus olhos treinados para com meus defeitos estéticos. Completamente enfeitiçado em assistir as horas passarem, lá vem os ponteiros do relógio obrigarem você a se afastar de mim. Então, conheço a cólera, a ira e os protestos que existem dentro de mim, todos contra um dia que, involuntariamente, se passou rápido demais. Me sinto tão disposto quando lhe digo: "Olá". São as primeiras horas da tarde. Renasço ali mesmo diante dos seus cílios enormes, sua boca carnuda, seus seios limitados e sua presença reluzente. Agora são as últimas horas da noite e você tem que ir. Morro ali mesmo na presença dos cascos vazios de bebidas, das bitucas de cigarro e de um beijo que vacila zonzo. Me sinto adoentado, sinto muita preguiça em lhe dizer "Adeus". Está escuro, só vejo sua ausência. Leva um tempo e meus olhos se acostumam com as trevas, agora enxergo a saudade.