quarta-feira, 24 de julho de 2013

Cafajestes



Vocês, garotinhas, são sugestionadas a acreditarem que um dia o patinho feio irá se tornar um belo cisne, que a fera se tornará um príncipe - mas é conversa fiada, é mentira! E é por isso que vocês se entregam para o primeiro cafajeste de fala mansa que encontram em suas vidas, acreditando que um dia a fama de bom moço lhe acorrente pelos ovos, deixando pra trás todo cheiro de boceta e cigarros. O bom moço é um folclore criado por virgens e por gordas. E é com essa esperança que vocês morrem sufocadas e matam os cafajestes asfixiados. Cafajestes se sentem uma puta traficando orgasmos cosméticos pelas esquinas dos seus sonhos, deixando tudo mofar, pois, depois de algumas noites eles já não se sentem tão disponíveis como pensavam estar na semana anterior. E então os amores eternos acabam na rapidez de uma inocente paixão de verão e vocês, garotinhas más, azedam e desacreditam do amor. E é exatamente por isso que os cafajestes pararam de procurar a garota dos seus sonhos, hoje eles se deleitam com qualquer uma que lhe façam um bom boquete, lhe façam dormir um bom sono ou lhe façam ficar acordado a noite inteira em qualquer transa embriagada. Mas os cafajestes não são os verdadeiros culpados por partirem corações por aí; na verdade a vida fode eles, e ela não tem pena e nem é seletiva. Por trás do bigode ralo, do gel do cabelo, do cigarro entre os dedos e do extenso cardápio telefônico, existe uma triste história de amor que ficou ereta e fodeu o rabo de muitos cafajestes por aí! Toda garota deveria saber que cafajestes são à prova de metamorfoses. Os cafajestes jamais trocam aquela marca de cigarro predileta ou o lado que o pinto descansa na cueca. Em outras palavras, garotinhas: Quando suas mamães forem contar alguma historinha pra vocês, olhe bem no fundo do olhos dela e diga, dando ênfase em cada palavra: - "Vá se foder, velha mentirosa!"

terça-feira, 23 de julho de 2013

O beijo de Jane Mag



J. Mag, em 11 de junho o outono ainda soprava o vento que derrubava as últimas folhas que ainda restavam nas árvores, elas caiam pelas calçadas e ruas da cidade. Enquanto folhas secas passeavam de acordo com a brisa do vento, eu te beijei, Jane M. Foi um beijo generoso e excitante. Pousar minha boca em seus lábios foi como lamber uma pilha. Não foi pela sua sobrancelha mal-feita, nem pelas suas manchinhas em suas costas, muito menos pelos seus olhos verdes ou pela sua pele negra. Me apaixonei pelo seu beijo, Mag. Esse é o motivo que me faz agir como um cão tentando agarrar a própria cauda e improvisar passando saliva nos cantos cinzas do meu corpo. Estou perdido e vulnerável. Não foi pelo seu cheiro bom, nem pelo seu hálito morno, muito menos pelo seu boquete aconchegante impecável. Você conseguiu desarmar essa bomba com um simples beijo, Jane, e agora tudo o que eu quero é pegar o seu beijo e dar uma volta com ele por aí. Mas o inverno chegou dia 22 de junho no hemisfério sul, trazendo o frio e a saudade do seu beijo. Me pego patinando em direção a lembrança do seu beijo, sempre caindo em uma boca que não é a sua. Sinto falta do seu beijo. Jane, eu tenho que me desintoxicar do seu beijo, pois ele já não é uma diversão de fim-de-semana, hoje seu beijo é uma necessidade do meu dia-a-dia. Nem por sexo, nem por amor; Só pelo seu beijo, Jane Mag.

O time da promiscuidade.



- Só porque ela abre as pernas facilmente não quer dizer que não tenha dignidade - Ouvi Elaine justificando, tomando as dores de sua amiga, Hanna. Não houve suavidade em sua voz e ela fez questão que todos notassem esse pequeno detalhe  - Ou um coração pronto para amar!

- Mulher fácil é como um livro chato de cabeceira - disse João, do modo mais masculino que conseguiu reunir. - Você abre algumas páginas, lê um pouco e depois dorme debruçado em cima de suas folhas vazias e sem conteúdo.

Depois olhou para Elaine e disse:

- E se você defende tanto essa bandeira, por quê não joga nesse time, Elaine? Nunca ouvi uma história de alguém comendo esse seu rabo virgem.

Elaine não soube responder.

Hanna enxugou um dos olhos com as dobras da mangas de sua blusa de frio.

 João continuou:

- Não me leva a mal, Hanna, mas eu te comeria na boa. Você tem virilhas convidativas e a promessa de uma boceta aconchegante. Algumas taças de vinho e você tiraria a palavra "não" do seu vocabulário sujo. No outro dia, talvez você receba uma mensagem promíscua e vulgar. E só! Agora pare de chorar e vamos transar em algum banheiro público.

Hanna sorriu.

- Então o culpado são vocês homens, não ela - disse Elaine.

João coçou a testa, como quem alisa e organiza seus pensamento e disse:

- Engano seu, Elaine. A banalidade é o berço que durmo toda noite. Se sua amiga quer brincar de princesinha, então ela que vá subir na torre mais alta e fique longe de camas desconhecidas e pintos novos.

E continuou:

- E foda-se você, Elaine, porque a menos que você transe tanto quanto eu e a vabagundazinha de sua amiga aqui, você jamais verá a beleza de um sexo sem compromisso às quatro da manhã com duas pessoas estranhas e embriagadas, que você jamais voltará a ver de novo. Eu bem que gostaria de te comer também, mas você é do tipo de garota que espera uma ligação a noite dizendo coisas românticas, shekesperianas, e não tenho saco pra isso. Quando jogar no nosso time, o time da promiscuidade, me ligue.

E entregou um cartão para Elaine.

Ela não disse nada.

João agarrou Hanna pelo braço e saíram os dois pela rua.

A julgar pela pressa, pelo volume da calça de João e a mordida que Hanna deu em seu próprio lábio; aposto que vão entrar no primeiro banheiro público que entrarem pela frente.

Elaine guardou com carinho o telefone de João, mesmo jurando pra si mesmo que nunca ligaria.

domingo, 21 de julho de 2013

the waiting room




Sentado, eu leio mais uma revista enquanto aguardo minha vez. Sem guichê, sem controle. Não ouvi ninguém chamando pelo corredor e, mesmo assim, um moreno alto e bem vestido entrou por aquela porta enfeitada de amarelo. A porta loira, com ferrugens nas dobradiças, fez um ruído macabro de desuso musicado pelo tempo - não é sempre que ela se abre e deixa alguém entrar.

Uma moça de cabelos castanhos sentou do meu lado e comentou algo sobre o tempo, sobre o clima. Um rapaz me perguntou sobre drogas. Uma mulher de olhos verdes disse algo sobre o medo e o pôr-do-sol.

Olho para a porta loira. Fechada.

Todas essas pessoas, cedo ou tarde, acabavam entrando em portas diferentes, de cores distintas. O que tínhamos era apenas um relacionamento descartável. Uma conversa rápida de elevador. Um aperto de mão nervoso, na poltrona durante o pouso do avião, um conforto mútuo. Uma rápida conversa sobre futebol enquanto a moça prepara o churros. Um papo furado na fila do banheiro.

Sem calendário de modelos femininos, sem relógio pendurados na parede.

Dou outra espiada rápida na porta amarela. ainda fechada!

É a sala de espera da vida; uma carta, uma mensagem, uma show, um abraço, um beijo, uma visita, um bebê, uma purificação, uma epifania, um salário, um bom-dia, o almoço, uma viagem, o pão quentinho, o leite fresco, um telefonema, um amor. Sempre tem alguém esperando algo.

A espera mede o tempo ao seu próprio modo.

A porta abre, vi alguém sair.

A porta amarela e enfeitada fica entreaberta.

Um homem uniformizado conversava com as pessoas. Ele usava um crachá com letras ilegíveis, estava copiosamente desgastado. Esse homem me fitou nos olhos, depois olhou pra prancheta em sua mão. Ele franziu o cenho, um gesto de incredulidade. Ele folheou as páginas e perguntou:

- Sr. Há quanto tempo está nessa sala de espera?

- Quatro anos, talvez. Espero o tempo que for necessário!

- Qual é a cor da sua porta?

- Amarela, aquela porta entreaberta.

- Por quê não entra em sua porta amarela?

- Assim sem bater?

- Peça licença.

- Não sei... Já olhei pela brecha...

- É algo incrivelmente nobre esperar esse tempo todo, mas é inadmissível não reagir com a oportunidade. Você esperou esse tempo todo e agora se esconde atrás desse medo ridículo?

Envergonhado, respondi:

- É, acho que sim.

- Acho que você se apegou a esperança e as revistas da sala de espera. Costuma acontecer. Você ensaia frases na frente do espelho do banheiro que nunca irá dizer. Acaba engolindo sonhos que nunca viverá. Você fez do sofá uma cama e agora esse tumor preguiçoso te impede de sonhar de verdade. Ridículo!

- Já disse que olhei e foi o máximo que consegui!

O homem espirou todo ar de seus pulmões bem forte, como quem desiste de empilhar cartas no vento forte. E disse:

- Olhar o agasalho da vitrine não te cobre do frio!

Enquanto catava os fiapos imaginários da minha blusa verde, vi de relance alguém entrando por aquela porta, a porta enfeitada, a porta amarela, a minha porta loira.

O ruído dela se fechando foi tudo que me restou. Parece ser o refrão da minha vida.

Consolação



às vezes, é tão importante sair do meu eu. Sair dessa minha enlouquecedora mente entupida de imensos vazios. às vezes, isto se torna tão necessário quanto qualquer luz do dia que clareia meus pensamentos mais obscuros. Preciso de um livro, uma música ou até uma mensagem de texto pra me distrair... Ou até este próprio texto. Para provar minha extrema dependência dessas palavras que clamam algum tipo de alívio. Alívio este que ando procurando pelas ruas mal frequentadas do meu presente, quem sabe do meu futuro e espero encontrá-lo no meu passado.

Por:  Fiorote, Erick.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Frase de cigarro




O cigarro pousava no relevo discreto do cinzeiro enquanto deixa sair de si uma fumaça densa que ia perfumando a atmosfera e colorindo, de cinza, o ar pesado do pequeno pub. Uma garrafa de vinho, pela metade, e dois copos de vidro descansavam na mesa do bar, e uma tinta vermelha de batom manchava a borda de um deles. Um casal. O moço vestia uma camisa social amarela com os três primeiros botões abertos, um cachecol e um tênis sem meia. Ele festejava. A moça escondia seu corpo com um vestido preto, óculos escuros e sapatos limpos. Ela estava de luto.

O rapaz deu um trago no cigarro e disse, entusiasmado:

- Volte pra mim, Karen. Eu tenho um plano. Nós poderíamos sair por aí, na minha kombi, descobrindo novos sabores e cheiros. Abraçaríamos a vida e sorriríamos para o amor, e assim o bom-dia para o carteiro seria mais sincero. Nós poderíamos fazer filtro dos sonhos para mastigar o pão e ter ressacas de vinho. E, em um dia frio, nós transaríamos na traseira da kombi sentindo cada vibração acústica do volume alto de Guns N' Roses tocando no rádio velho. E então a gente desenharia nossas inicias nos vidros embaçados pelo suor do nosso ..

A moça sorriu alto, cortando feito cerol o sonho do rapaz. Foi um riso perfumado de sarcasmo e incrivelmente maldoso. A expressão em seu rosto era a mesma estampada na face de uma miss-universo vendo sua concorrente cair enquanto desfila para os jurados. Puro deboche! Se um pensamento maléfico fizesse algum ruído, esse seria o som zombeteiro de sua gargalhada de gozação.

Ele tragou o máximo que pode e sentiu a tontura do exagero. Aquele trago nervoso grifou sua preocupação e expôs o ponto de interrogação em sua cara, como um marca texto colorido destacando aquela palavra desconhecida pelo leitor.

Ela se permitiu derramar algumas lágrimas antes de olhar no fundo dos olhos verdes do moço e disse, dando ênfase em cada palavra:

- Você vende sonhos que não tem em estoque!

Ela socou, com pressa, seus cabelos para trás do ombro direito, arrancou o resto de cigarro das mãos do moço, deu um profundo trago e deixou aquela mesma fumaça, densa e cinza, sair pelo seu nariz. Depois apertou forte o cigarro no fundo do cinzeiro, apagando todos os planos, todos os sonhos, todo o futuro e transformando a interrogação dele em ponto final para ambos!

A moça levantou e foi embora.

O moço bebericou o resto do vinho e fumou mais um cigarro.

terça-feira, 16 de julho de 2013

desabafo de um Velho



Minha vida passando tão rápido como avião,
não reparei o tanto que envelheci,
hoje paro e percebo quanto ainda me resta,
o quanto ainda não fiz.

Minha cabeça rodeia vários pensamentos
várias ideias novas, algumas velhas
paro novamente.

Sigo a mesma rotina, acordo, trabalho e durmo
algumas coisas diferentes, porém não foge o hábito.

Ainda penso que sou jovem para realizar certas coisas
porém o espelho me faz refletir no contrário.

Será que poderia ser diferente?
Será que eu errei em alguma etapa?

..

Certas ideias me vem na cabeça repetidamente,
O que será que é a vida? E o que fazer dela?
O que é viver realmente?

..

Porém, consigo ver, que pelo fato de se repetirem..
É que pelo meu modo de viver não encontrei a resposta.
E isso que mais me dá angústia,
de não ter a resposta de algo.

Irei morrer e com certeza não saberei a resposta.
Passei meus anos todos sem saber viver..
E por agora concluo que já estava morto quando nasci.

Por:  Martins, Ulysses.

domingo, 14 de julho de 2013

Sua blusa indiana vermelha




Naquela noite fria e sem nuvens, eu reuni alguns grãos de paciência e dedicação para colher pequenas flores coloridas e te entregar. Elas justificariam meu atraso e lhe trariam algum sorriso. E foi assim que eu te conheci, Júlia. Você estava usando aquela blusa indiana vermelha cheia de flores e eu pude sentir todo o perfume delas, como uma primavera particular, como um jardim só seu. Sua pele enegrecida por melaninas e a contrariedade do seu cabelo liso me fazem acreditar que você é a promessa de algo novo, Júlia. Percebi o seu olhar e vi a cor de grama nova e bem molhada, de algas marinhas que enrolam meus sonhos e espremem o melhor deles em um copo limpo como o dia. Dentro do miolo do seu olho verde, no quadro negro da sua pupila, eu vi desenhado o meu reflexo sorrindo um riso largo e gordo. Nós éramos espectadores da dança das águas. Era uma mistura de bailado com cores fortes, um arco-íris nadando no carrossel aquático. E ouvindo alguma música de protagonistas de novela, eu aproximei o meu rosto do seu e descobri como é bom te olhar de pertinho e sentir o cheiro do seu hálito morno. Seu olho deitou um sono leve, implorado silenciosamente um beijo, e então eu te beijei, Júlia. A mesma cor dos olhos, o mesmo signo. Seu jeito desengonçado de andar, sua alçada postura de sentar, seu jeito bem feminino de falar, sua mão sempre morta ao ar, sua voz de fazer amizades com cachorros e com bebês, tudo resumido em um beijo demorado, suave e sem pressa. Seu beijo foi a marca d'água para uma rua sem saída. Júlia, você tem aquele jeito de sempre terminar o beijo passeando sua língua pela minha gengiva, como uma assinatura pessoal, e isso me fez sorrir. E isso me faz querer orbitar na argola preta do seu piercing de nariz.

Hoje eu substitui as pequenas flores pelo pôr-do-sol, mas o atraso, o riso, a pele negra, as sensações, o cheiro, o hálito, o signo, o verde da grama, a música, a rua sem saída, o beijo e a língua na gengiva ainda estavam lá, junto com as flores e a primavera da sua blusa indiana vermelha que eu gosto tanto, Júlia.

sábado, 13 de julho de 2013

looking for

"Nem tudo que você procura 
é aquilo que quer encontrar,
mas você encontra 
no que você estava procurando."


Por:  Carneiro, Hyago.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Querida, VI

  10 de Julho de 2013.
Querida,

Duas pequenas, grossas e delicadas alças no seu ombro sustentavam todo o seu lindo vestido azul, e nas bordas das alças tinham um babado com outro tom de cor que dava a impressão de ser um daqueles vestidos de baile de festa ou de princesa de contos de fadas. Um pouco de cetim, um pouco de algodão. Parece ter sido originalizado na china ou em algum país bastante pobre; pois as pequenas imperfeições nos cantos dos bordados do vestido revelam que foram costurados por mãos fadigadas e tristes, que vacilavam por falta de energia e que tremiam de frio na beira do lago da decepção e desesperança. No seio ficavam um jardim de flores, uma em cima da outra. Todas com o mesmo tom de azul de seu vestido, ocupando toda a parte do busto até o pescoço. Todos os brotos caindo para o mesmo sentido, para seu lado direito, e isso dava um efeito que parecia que o vento brincava com seu vestido azul, soprando pingos de tinta da mesma cor em cima de todas elas, todas na mesma direção. Curto até o joelho, e isso deixava todos ver o seu desleixo com suas pernas magras. Querida, seus olhos amadeirados suavizam a unanimidade de cores. A cor vermelho-limpo da sua língua também quebrava esse paradigma de coloração. Sua áurea, sua calma, seu vestido, sua fé; todos com o mesmo tom de azul, azul da cor do céu. Querida, você comia bolos-de-chuva com a determinação de um atleta, sujando todo o seu vestido azul. Querida, você andava com sua bicicleta pequena com uma cestinha na frente, para carregar todos seus bolinhos-de-chuva, e a velocidade do seu pedalar ajudava o vento a brincar com seu vestido e a colorir suas flores. Seu carinho era azul, seu beijo era azul, seu amor era azul.

E então, querida, eu acordei.

Depois tentei me enganar mergulhando na ilusão de tentar sonhar o mesmo sonho outra vez, com a fé e a esperança de um garoto.

Isso me fez sorrir.

Foi um riso todo azul.

Azul da cor do seu vestido.

Do seu carinho.

Do seu beijo.

Azul da cor do seu amor.

Unfaithfully yours,
Araujo, Rodrigo.

Riso de Lua




A noite chegou e arrastou pra perto dela um traço fino e branco. Um riso magro e congelado decorava as nuvens e estampava, com alegria, o olimpo dos deuses, o céu de Brasília. Do rosto da lua eu só vejo um traço, como uma criança que promete não olhar pro indevido, cobre o rosto com as mãos, e depois se diverte com a malícia de deixar os dedos que cobrem os olhos totalmente escancarados. Ou então como aquele rapaz desanuviado que grita, da porta do banheiro, o socorro de uma tolha para enxugar seu banho. Ou então a garota tímida que flerta com o moço do quarto andar apenas na hora em que o elevador está quase completando o fechamento das portas e ainda existe aquela fresta, e então ela umedece os lábios e olha para o rapaz. Aquele risco de prata no céu cresce pra uma nova fase. Dias à trás, ela se renovou e virou uma nova lua, uma Lua Nova. E foi nessa época que ela virou a garota tímida do elevador e evitou o olhar de todos os rapazes da terra. Ela rodopiou nos seus calcanhares de prata, ficando de costas para nós, para a terra. Ela estava de frente com o sol, em transe com o universo. E agora parece que teve uma de suas epifanias mensais, porque eu sinto que aquele riso premeditado é fruto de um saber que nós levaríamos todas as fases de nossas vida para conhecer, e, mesmo assim, ainda não seríamos capazes de sorrir um riso com toda aquela seriedade e sabedoria depois de termos nos virado contra o mundo inteiro só para poder encarado o deus sol, lá do olimpo, de sua casa.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Expondo almas




E bastou alguns cliques e eu já sabia o gosto de seus filmes e livros. Ela é uma garota de 1.85m de altura, 48kg e 17 anos. Exageradamente caucasiana. Suas tatuagens, bem pintadas, fechavam a perna direita e subiam alguns rabiscos pela sua coxa, como jardinagem. Apaixonada pelo terror, por romance e por filmes de cachorros falantes, dublados por vozes de pessoas famosas, que sempre morrem no final. Alguns cliques a mais e eu já a conhecia descartavelmente. Conheci sua queda por sertanejo e sua paixão por textos curtos. Ouvi algumas faixas de sua banda predileta, de todas as suas bandas prediletas. E ouvir todas essas músicas foi tão revelador quanto lê um diário seu, é desnudar sua alma por aí com um pequeno tapa-sexo que não impede que enxergue seu verdadeiro 'eu', mas também impede do mistério passear com minha dúvida por aí. O sabor do mistério fugiu montado nas pequenas frases que você divulga sem pensar. Me entediei de te conhecer cosmeticamente. Foi uma perca de tempo. Já sei dos seus medos e das suas conquistas. E então nossas conversas serão composta por um vazio tão grande que nem merece uma chance, desperdiçando nosso destino com tantas certezas. E o sabor da dúvida? E as conversas ensaiadas em banheiros de espelhos? Você se mostrou rápido demais, cedo demais. Não tenho a menor vontade de ir com sede ao pote, pois eu vejo tudo através desse vidro transparente e eu tenho certeza que não tem nada que me interesse lá dentro.