quinta-feira, 30 de agosto de 2018

edaduas




Íris, hoje foi o dia em que me senti perdido, uma bússola sem a agulha que aponta o norte, que me apontaria você. Hoje foi o dia que a saudade entrou sem timidez no meu dia e eu pude sentir toda a dor que ela pode causar. Luiz Gonzaga cantou que: "saudade assim faz roer e amarga qui nem jiló."

E amargou mesmo.

Antes mesmo de acordar por inteiro hoje, ainda meio sonâmbulo, te procurei no que sobra de espaço na minha cama de solteiro, daquela forma involuntária que você sempre achou graça, lembra? Encontrei apenas um travesseiro sem o seu cheiro, porém o abracei mesmo assim. Foi um abraço triste como os de despedida em aeroportos.

Depois de espreguiçar, ainda na cama, um aplicativo recordou esse mesmo dia um ano atrás. Você sorria e usava um vestido rosa. Foi uma daqueles fotos que eu batia sempre te achava incrivelmente linda. Eram tantas, lembra? Talvez não fosse seus olhos escuros, nem o seu riso, seu nariz fino, suas curvas e nem mesmo o seu jeito infantil, na verdade, talvez fosse a minha tentativa desesperada de congelar você por alguns instantes e te levar comigo para a eternidade.

Entrei no carro e abaixei, sem motivo algum, o corta sol enquanto ajeitava o cinto de segurança e me preparava para dirigir. Vi sua cartinha pendurada lá e não tive coragem de abrir. Aproveitei a segurança do cinto e usei como força para segurar o impulso de ir, de novo, atrás de você e acabar de vez com essa saudade.

Cheguei no trabalho e vi que as flores tinham seu nome. Elas me olhavam e debochavam de mim, todas elas! Até elas tinha um pedaço seu, e eu tinha apenas a saudade.

Fui almoçar num restaurante perto do meu trabalho e uma moça esbarrou em mim. Eu olhei no fundo dos olhos dela enquanto me desculpava e vi seu nome escrito ali, como uma assinatura. A pupila dela dilatou e eu lembrei das aulas do ensino médio, lembrando do nome do responsável por essa entrada de luz na pupila. Ela piscou duas vezes e se virou. Eu congelei por alguns segundos e depois segui em frente, e a saudade logo atrás, claro.

De tanta saudade, hoje fumei a tarde pra tentar matar isso de alguma forma. Olhei para as árvores, para o estacionamento deserto, para os carros passando devagarzinho perto da faixa de pedestres, para as flores que tinham seu nome e, já um pouco cansado, olhei para o céu e adivinha o que eu vi? Sim, eu vi um arco-íris em um dia de agosto sem chuva.

Na volta para casa, arrisquei um FM e no rádio tocava a banca Gooo Goo Dolls, e adivinha qual era música..

Hoje li que a palavra "saudade" existe só em algumas línguas. Engraçado, né? E esse é o tipo de curiosidade que você provavelmente me diria, Íris. E isso só me deu mais saudade.

Hoje foi o dia em que a saudade quis me matar de qualquer jeito, Íris, e a verdade é que eu já não sei como morrer.