quinta-feira, 4 de abril de 2013

Talvez o amor seja isso - II



Os pratos deixavam cair de si mesmos pequenas gotas de água fria enquanto escorriam pendurados por um suporte de plástico, em cima da pia da cozinha. O velho casal ria enquanto fazia a rotineira limpeza depois de um jantar comum e agradável. Havia sabão por toda parte, a brincadeira com água recordava o tempo de namoro, e ambos gostavam de relembrar e reviver o tempo da mocidade. Eram crianças em receptáculos amadurecidos pelo tic-tac do relógio.

O velho abaixou a calça e fez alguns gestos obscenos e, gesticulando, disse:

- Venha cá, mulher! Vou lembrá-la o por quê de você estar casada comigo por tanto tempo.

Ela gargalhou, como sempre o fazia. O riso parecia brotar de seus lábios quando ela o via fazendo aquelas palhaçadas, assim do nada. Ela se lembrou que há 31 invernos atrás, ela parou de procurar o cara perfeito e quando deu por si, estava assistindo o pôr-do-sol e acordando ao lado de um, o seu velho. A velha sorriu como se sua vida dependesse disso e os anos ficaram mais evidentes em seu rosto tão judiado pelo tempo.

E então ele a amou mais ainda. O calendário poderia ter surrado a beleza de sua esposa, mas as décadas jamais conseguiram acabar com aquele riso de mulher, a verdadeira maquiagem feminina na opinião de todo homem de verdade.

Talvez o amor seja isso; amar no outro o que não reflete no espelho. Talvez se ele conseguir fazer sua velha sorrir até o fim da vida, ele prestará mais atenção na música do seu riso do que nas rugas em seus olhos.



Post Scriptum: estava procurando imagens de velhinhos e vi esse tumblr. Não conheço, não vou ganhar nada com isso, mas é que achei muito legal as imagens. Aproveitem. tumblr.com/tagged/idosos 

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