terça-feira, 23 de abril de 2013

O jovem poeta



Na estação centro metropolitana, depois do barulho que alerta o fechamento das portas, o metrô seguiu rápido no sentido central. O poeta sentou no chão, sem caderno e sem lápis e suas inspirações evaporavam-se durante toda a curta viagem, uma após a outra. Ele observou o céu e viu os desenhos que eram lapidados pela velocidade do vento, pela textura das nuvens e, principalmente, pela sua imaginação leve. As pessoas tinham aquela vermelhidão nos olhos, o que evidenciou que acordaram muito antes do desejado. Mulheres exitadas e surpresas balançando a cabeça verticalmente, aplaudindo e confirmando silenciosamente a exatidão do seu horóscopo. Homens apressados, sacudindo as pernas rapidamente num gesto repetitivo e inconsciente que reflete, por meio corporal, a sua ansiedade. Jovens desnudando suas almas em redes sociais, postando a rotina de suas vidas, expondo o quão sem-graça são as porras de suas almas. O relógio lembrava os passageiros o quanto estavam atrasados, aumentando o estresse e a ansiedade de cada indivíduo. O poeta viu pessoas fingindo sono apenas para não dar lugar à quem necessita, estudou, trabalhou, pagou seus impostos todos em dia e conquistou a única coisa que se ganha por fazer parte do patético fluxo evolutivo existencial; o desgosto de ver alguém ocupando um lugar que por direito é seu! O jovem poeta ficou triste, sentiu a rotina absorver sua inspiração feito esponja e prometeu a si mesmo olhar apenas as nuvens do céu azul, e fez uma nota mental para jamais esquecer seu caderno e seu lápis novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário