terça-feira, 13 de agosto de 2013

bon vivant




O homem desenhava os três últimos números de seu telefone num guardanapo. Ele parou por alguns segundos e massageou seu bigode malandreado, fingindo não saber seu próprio telefone de cor, pintando de desleixo e desmazelo seu truque teatral que sempre dava certo. Ele sabia que todos o obervavam. Ele olhou em volta com seus óculos escuros pesados e sentiu que era anônimo, e sorriu tentando contar imaginariamente quantas vezes teria feito a mesma cena em bares diferentes. O homem virou para a platéia e seu cotovelo fincou no balcão do bar, era o alicerce que suportava seu enorme corpo. Seu ombro relaxava desigual e o cigarro, aceso entre os dedos, sublinavam a ideia de rebeldia, charme e elegância. A sola do seu sapato fazia uma marca de sujo no balcão, ele estava fazendo pose - e todos admiravam isso. Ele vestia um terno preto listrado na vertical e uma camisa social impecavelmente branca por dentro. A gravata borboleta preta e o lenço vermelho, que jamais seria usado, enfeitavam o vestuário do enorme rapaz. Ele tragou o máximo que pode e fingiu sentir a lembrança arrombando sua cabeça. Ele pigarreou forte, sorriu e deixou que o lápis de olho da garçonete escorregasse no papel mole e branco, pintando os três últimos números de seu telefone. Com o papel, o homem fez um origami de flor e margulhou no decote da moça ao seu lado. Depois de beijar a mão da moça numa prece gentil, bebeu o resto de sua cerveja sabendo que todos ali no bar ainda o olhava com pupilas dilatadas e sombrancelhas desacreditadas. Ele garantiu mais uma boceta no cardápio, mais um abraço quente em noites frias. Ele era aplaudido silenciosamente por todos, inclusive pela moça - e ele sabia disso.

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