quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Querida Karen, VIII


 14 de Agosto de 2013.
Querida Karen,

A raiz do seu cabelo tem um tom castanho-amadeirado, um pouco escuro, que vai deslizando pra um forte fim de tarde ensolarado até chegar na metade. Percorrendo o restante de cada fio, eles mergulham numa cor chá-de-erva-doce e permanecem assim, clareando cada vez mais até chegar nas pontas. O tom degradê do seu cabelo é uma flor margarida dentro de um universo de dourado, e eu me sinto o menor dos planetas, tentando achar uma brecha para girar na órbita do seu penteado com uma franja, Karen, a mesma franja que você própria corta em segredo no banheiro, em frente ao espelho, depois de conferir duas vezes se a porta está de fato bem trancada. Karen, me despeço do seu cabelo sabendo que ainda lembrarei daquela sua blusa regata com um desenho engraçado e meio desbotada, da sua calça do Chaves com marcas de cabides e do cheirinho bom da sua cama, que já contribuiu tanto para a minha felicidade e prazer. Escrevo meu adeus diferente dos vilões de historinhas em quadrinhos, que dizem seus terríveis planos infalíveis antes mesmo de colocá-los em prática, antes mesmo até de começá-los. Karen, não estou escrevendo uma possibilidade, estou escrevendo um fato. Adeus.

Quanto às pelúcias, elas ainda decoram minha cama. As fotos ainda dão o ar da graça nos quadros, e as cartas ainda estão acumulando poeira dentro da caixinha de sapato rosa que mora no alto do meu guarda-roupas. Nossas músicas estão nos rádios e o nosso sexo existe apenas em lembranças, desde o seu aniversário e você sabe, Karen.

Quanto ao tempo, Karen, eu digo que meu coração era um cimento fresco, onde você colocou seu pé e sua alma por querer, enquanto corria por aí vivendo sua vida. Bem, ele se consolidou e pode passar anos e décadas, e ele ainda continuará moldado à você pela a eternidade.

Karen, quanto ao amor, eu digo que ele tem a mesma força de vontade da sua franja. Por mais que eu tente cortá-lo, em segredo, no banheiro de bares ou motéis, ele volta a crescer, estuprando minha visão e me forçando a enxergar somente seu lindo cabelo loiro.
  
Com amor, 
seu gatinho, seu ridículo, seu bem.

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