terça-feira, 30 de abril de 2013

Céu e inferno.




Rick Brodie é um palhaço sem o nariz vermelho, o sapato grande e a calça folgada. Ele brinca apenas com quem ele realmente gosta. E entre uma zombaria e outra, ele disse o seguinte para seu amigo Stuart:

- Sua namorada é Chinesa e o formato da vagina dela é na horizontal. E sua mãe é tão gorda que ela cai para os dois lados da cama! Você é tão feio que o médio espancou a sua mãe quando você nasceu!

O pessoal sorriu como se suas vidas dependessem disso. Stuart não gostou, sentiu corar o rosto e disse cegamente, influenciado pela raiva:

- Sua filha é deficiênte, Rick!

Rick Brodie olhou triste para o amigo. Os amigos mal acreditavam no que estavam ouvindo. Enquanto Rick olhava para Stuart ele viu nascer, com pressa, o arrependimento em cada pedaço do seu rosto de menino. E isso o fez pensar.

- Me desculpe, Rick. Eu exagerei. Me perdoe.

Rick Brodie coleciou alguns minutos antes de responder:

- O inferno é perder a calma por simples brincadeiras...

Stuart sabia que tinha perdido a calma por bobagem e se apressou em abraçar seu amigo, Rick Brodie. Rick o olhou de perto e observou seu pedido de perdão genuíno e disse:

- .. E o céu é manter a calma apesar da seriedade e gravidade da ofensa.

domingo, 28 de abril de 2013

Ensaio de um apaixonado




Olhando para o nascer do sol e me perdendo nas suas infinitas tonalidades de alaranjado, fiquei me sentindo um tanto quanto aliviado com toda paz que aquele horizonte me entregava de braços abertos, mas sentia que ainda me faltava algo. E foi quando recebi uma mensagem sua... Percebi que o que faltava era meu reflexo nos seus olhos.


Por: Erick Fiorote

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Talvez o amor seja isso III




O céu estava com um tom degradê incrível; o sol se levantava preguiçosamente e o laranjado do dia baralhava-se com o resto do cinza meio azulado da noite, e este se despedia despreocupadamente da escuridão da véspera que antecede toda manhã.

O jovem casal ainda estava sonolento naquele quarto de um motel, deitados nus na cama e enrolados em cobertores, enquanto desinformados vaga-lumes ainda piscavam suas caldas florescentes, desavisados sobre o nascer de um novo dia. Alguns postes ainda derramavam alguma luz sob a cabeça de poucos trabalhadores honestos que acordavam bem cedo para ir labutar. Aos poucos o deserto da madrugada dava lugar ao formigueiro humano que um dia de segunda-feira proporcionava à qualquer centro metropolitano.

O rapaz acordou primeiro bocejando forte e viu sua cocota ali, roncando bem baixinho. Ele pode imaginar ela sentindo vergonha dessa cena, riu alto e levou a mão a boca rapidamente, como uma criança quando deixa uma mentira escapulir. Ela se mexeu delicadamente e ele sentiu vontade de beijá-la. Enquanto tirava o telefone do gancho e pedia o desjejum, um riso brotava no canto de sua boca e florescia mostrando seus dentes divorciados. Ele viu sua pele morena e o seu pequeno tamanho, seu queixo saliente e seu cabelo desfiado, frágil e fino, mas mesmo assim fazia parte da força que o prendia a ela.

Eles estavam juntos há alguns meses e o rapaz sentiu uma estranha vontade de oficializar seu relacionamento ali mesmo, naquele momento. Entre o rádio AM ligado em uma estação qualquer e a banheira com água, agora fria, pela metade. Entre o abajur que esbanjava cores primárias e os pacotes de camisinha aromatizadas artificialmente que foram rasgados por mão trôpegas e dentes apressados. Foi uma epifania amorosa e ele sabia disso. O rapaz era inteligente o bastante para não esperar um grande momento acontecer para poder demonstrar a imensidão do seu sentimento, e então disse eufórico:

- Acorde, sua ridícula! Acorda, porra! Amor, acorde!

Ela acordou zonza e sentiu o forte bafo matutino do rapaz. A cara amassada evidenciava ainda mais a ingratidão que a beleza lhe ofereceu. Depois que ela se sentou, tapou seus lindos seios e disse no tom mais animado que conseguiu reunir depois de ser acordada por um cara que tinha a pior cara de sono que já viu em toda sua vida:

- O que houve, gatinho, está tudo bem?

Ele só teve mais certeza ainda. Ajoelhou-se na cama redonda, olhou no fundo dos seus olhos e disse:

- Quer namorar comigo?

A moça parecia não acreditar. Depois de ficar encarando o rapaz por tempo demais, ela o abraçou forte, o obrigando a deitar, caindo por cima dela. E então ela pode ver o seu próprio largo sorriso no espelho, que ficava no teto, ele conseguia refletir sua felicidade e o amor que sentia pelo rapaz.

Ela olhou bem no fundo do seu olho e resolveu dizer sim, mas à sua própria maneira. Ela o beijou demoradamente e depois disso fizeram amor apaixonadamente.

Talvez o amor seja isso; acordar o seu café-da-manhã na cama sem maquiagem e ver todas as suas imperfeições; o ronco nasal, a remela em seus olhos, o mau-hálito em sua boca e mesmo assim, apesar de tudo isso, ainda querer devorá-la até a última fatia.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O jovem poeta



Na estação centro metropolitana, depois do barulho que alerta o fechamento das portas, o metrô seguiu rápido no sentido central. O poeta sentou no chão, sem caderno e sem lápis e suas inspirações evaporavam-se durante toda a curta viagem, uma após a outra. Ele observou o céu e viu os desenhos que eram lapidados pela velocidade do vento, pela textura das nuvens e, principalmente, pela sua imaginação leve. As pessoas tinham aquela vermelhidão nos olhos, o que evidenciou que acordaram muito antes do desejado. Mulheres exitadas e surpresas balançando a cabeça verticalmente, aplaudindo e confirmando silenciosamente a exatidão do seu horóscopo. Homens apressados, sacudindo as pernas rapidamente num gesto repetitivo e inconsciente que reflete, por meio corporal, a sua ansiedade. Jovens desnudando suas almas em redes sociais, postando a rotina de suas vidas, expondo o quão sem-graça são as porras de suas almas. O relógio lembrava os passageiros o quanto estavam atrasados, aumentando o estresse e a ansiedade de cada indivíduo. O poeta viu pessoas fingindo sono apenas para não dar lugar à quem necessita, estudou, trabalhou, pagou seus impostos todos em dia e conquistou a única coisa que se ganha por fazer parte do patético fluxo evolutivo existencial; o desgosto de ver alguém ocupando um lugar que por direito é seu! O jovem poeta ficou triste, sentiu a rotina absorver sua inspiração feito esponja e prometeu a si mesmo olhar apenas as nuvens do céu azul, e fez uma nota mental para jamais esquecer seu caderno e seu lápis novamente.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O chá loiro



O vapor quente ainda saia da xícara de chá, formando um céu cinza na sala da sua casa que depois ia sumindo aos poucos conforme submergia, com a ajuda do vento, por entre o restante dos cômodos da sua casa. O lado bom de estar doente é esse; o mimo, o dengo. Vi você olhar pra mim com aquela cara de mãe solteira que te deixa mais séria do que você realmente está. Você defecou todo carinho, amor e sexo em mim, e isso me curou no dia seguinte. Com a ajuda da luz da televisão eu garimpei todo ouro que saia do seu corpo em forma de pelo. Talvez você seja o meu pote de ouro, e talvez o colchão da sua cama seja o meu fim do arco-íris. Esse foi o meu último pensamento antes de ir pernoitar no seu colo, e isso significa que eu sonhei com você antes mesmo de adormecer na volta do seu braço.

Antes do expediente acabar

Porque exatamente as 17:07 da tarde, quando falta menos de uma hora pro meu expediente acabar me bate um vontade danada de escrever um texto pra você te lembrando do quanto você é especial e do tanto de saudades que estou de você. Às vezes a gente se pega pensando nas pessoas em lugares e horas inesperadas, e às vezes ate impróprias. A vida me faz lembrar você no tic-tac do relógio, na lua no céu e ate nas pedrinhas da rua lá de casa. E às vezes me pergunto se sente a minha falta do tanto que eu sinto a sua. Mas se não sentir, também não importa, porque foi você mesmo que me ensinou que a gente deve se dar sem esperar reciprocidade, apenas por se dar, por se doar, por ser quem somos e o que queremos ser hoje e sempre. E que se eu mostrar o mais bonito de mim, isso já será o meu melhor, e se o sentimento e a atitude não forem recíprocos, pelo menos a sua parte você fez, e um dia, será retribuído por isso. Pode não ser por quem você quer, mas será por quem quer você. E acredite, Deus não coloca ninguém na sua vida sem um propósito. Obrigado por tudo! 

Por: Tiessa Cocotona

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Talvez o amor seja isso - II



Os pratos deixavam cair de si mesmos pequenas gotas de água fria enquanto escorriam pendurados por um suporte de plástico, em cima da pia da cozinha. O velho casal ria enquanto fazia a rotineira limpeza depois de um jantar comum e agradável. Havia sabão por toda parte, a brincadeira com água recordava o tempo de namoro, e ambos gostavam de relembrar e reviver o tempo da mocidade. Eram crianças em receptáculos amadurecidos pelo tic-tac do relógio.

O velho abaixou a calça e fez alguns gestos obscenos e, gesticulando, disse:

- Venha cá, mulher! Vou lembrá-la o por quê de você estar casada comigo por tanto tempo.

Ela gargalhou, como sempre o fazia. O riso parecia brotar de seus lábios quando ela o via fazendo aquelas palhaçadas, assim do nada. Ela se lembrou que há 31 invernos atrás, ela parou de procurar o cara perfeito e quando deu por si, estava assistindo o pôr-do-sol e acordando ao lado de um, o seu velho. A velha sorriu como se sua vida dependesse disso e os anos ficaram mais evidentes em seu rosto tão judiado pelo tempo.

E então ele a amou mais ainda. O calendário poderia ter surrado a beleza de sua esposa, mas as décadas jamais conseguiram acabar com aquele riso de mulher, a verdadeira maquiagem feminina na opinião de todo homem de verdade.

Talvez o amor seja isso; amar no outro o que não reflete no espelho. Talvez se ele conseguir fazer sua velha sorrir até o fim da vida, ele prestará mais atenção na música do seu riso do que nas rugas em seus olhos.



Post Scriptum: estava procurando imagens de velhinhos e vi esse tumblr. Não conheço, não vou ganhar nada com isso, mas é que achei muito legal as imagens. Aproveitem. tumblr.com/tagged/idosos 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Sobre o arrependimento.




O cobrador bateu três vezes com a caneta na caixa de dinheiro em sua frente, esse era o sinal que o motorista precisava para poder fechar a porta traseira e seguir em frente. Isso trouxe João para o presente, espantando seus pensamentos sobre o dia anterior. Com aquele olhar perdido ficou fácil de perceber que sua bússola não apontava mais para o norte.

Um dia antes, o despertador do rádio AM tocou alto e fez com que João acordasse preguiçoso e ainda sonolento. O cheiro do sexo da noite anterior ainda estava palpável e as camisinhas, amarradas pelas pontas, ainda estavam jogadas pelo chão sujo de um quarto de um motel qualquer. Já vestido, ele sentiu sua aliança de ouro dentro do bolso na parte de trás da calça e se apressou em coloca-la em seu devido lugar. Olhou por um bom tempo para a bela moça que estava em sua cama, a que estava em suas mãos na noite passada e sentiu nojo. Ele decidiu que gostava do dragão tatuado nas costas e da pose que ela fazia ao dormir. Tentou se despedir mentalmente e riu dessa tolice. Então ele a beijou na testa e riu mais uma vez, dessa vez mentalmente. Aquele beijo não significava nada, e ele sabia disso. Depois que pagou a pernoite, foi embora jurando nunca mais atuar no palco da infidelidade.

Sua noiva, Olívia, era linda. Seios pequenos, cabelos curtos e pele morena. Seus lábios beijava o orvalho pela manhã e cuspiam palavras violentas. O doce da beleza parecia se dissolver na acidez de seu gênio forte e personalidade paranoica. Com o ciúme de Otelo e o poder de Herodes, ela disse agressivamente:

- Onde você passou a noite, filho da puta?

João olhou rápido para cima e para os lados, como quem procura uma resposta satisfatória no ar. A mentira muda o seu corpo fisiologicamente. A mentira faz o rosto e, principalmente, o nariz aquecer. Esse é um efeito causado pela ínsula, uma região do cérebro responsável pela coordenação das emoções, e o alívio vem com uma rápida esfregada no nariz, e Olívia sabia disso. João pensou em falar algo e coçou o nariz, porém não respondeu. Ele sabia que aquela não seria uma conversa a dois.

Olívia disse isso retoricamente. Assim como toda mulher, ela tinha um sexto sentido para a traição. Depois de dois tapas, alguns palavrões e muitas lágrimas, ela teve a certeza que o casamento não seria bem vindo à sua vida, não agora, não com João. Moravam juntos a apenas três meses e ela já estava farta daquilo. Ela conheceu João nos bares, na noite, nas festas. Ela descobriu que não importa quantas vezes você troque o seu quadro predileto de cômodo; seja na sala, na cozinha ou nos quartos, a fotografia dele será a mesma para sempre. Depois dessa epifania feminina, enxugou a última lágrima que cairia por João, ergueu a cabeça e foi embora para sempre.

Hoje, João anda de ônibus em ônibus procurando rostos parecidos com de sua Olívia pelas janelas sujas e teletransportando-se ao passado desperdiçado e desdenhado, sempre que possível.