segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Talvez o amor seja isso - I

É quarta-feira e Jó tem a tarde ensolarada inteira pela frente. Ele se prepara para pegar dois ônibus e ir visitar Ana Júlia em sua casa. Com um longo banho demorado e com um exagero de perfume doce, ele segue para rua com uma cara mais feliz do que sua vida realmente lhe proporciona. Duas horas depois ele decide, com cuidado, qual flor terá o prazer de passear pelos cabelos loiros de Ana Júlia. Jó sente um suco de suor formar-se na parte de trás do joelho e do cotovelo, também nota uma rodela de umidade se formar em suas axilas mas nada disso mais importa. Jó está na esquina da casa da Ana Júlia com uma pequena flor na mão e um sorriso no rosto. Logo suas roupas estariam entre a sala e o quarto de Ana Júlia, o perfume doce dançaria pelas voltas do ralo do banheiro, fruto de um banho preguiçoso e aliviador após sexo, e a flor iria existir apenas por mais algumas horas antes de morrer dentro de uma caixinha de lembranças bobas, guardadas em cima do guarda-roupas no pequeno quarto que dividia com sua irmã mais nova.

Talvez o amor seja isso; juntar todo suor de um dia e alegria de uma vida para poder se refrescar e dividir com a pessoa certa, seu grande amor.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Querida, II



22 de Fevereiro de 2013
Querida, 

Pois fique sabendo que você foi meu livro de cabeceira durante todos esses anos, e todos dias antes de dormir, eu relia aquele final feliz sheakespeariano bem cliché, que a gente sempre arrotou para fora da nossa boca tentando benzer nosso relacionamento em cada oportunidade que nos davam de contar sobre aquele menino no cachorro-quente ou sobre meu pedido de namoro cafona, porém, único, singular e ímpar nessa vida de clichês previsíveis e frases ensaiadas em frente ao espelho.

Araújo, Rodrigo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A música e o silêncio

- Música, nós somos praticamente iguais - afirmou o Silêncio. - Apesar de sermos opostos um ao outro, somos as companhias perfeitas durante uma leitura ou um sono na tarde de um feriado. E quando se trata de infelicidade, nós dois somos professores na arte de fazer brotar água salgada em olhos desesperados e carentes.

- Claro, exceto por um detalhe. - respondeu sabiamente a Música, - Na tristeza, quando eu abraço aquele corpo frágil e infeliz, mesmo chorando a pessoa se sente em companhia. Já você quando a envolve em seus braços, traz somente a solidão.

E houve silêncio.

E o Silêncio sentiu-se só.

E então a Música fez companhia para o Silêncio.

E então houve música.

E então o Silêncio sorriu e sentiu que não estava mais só.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sobre ensinamento.



Era domingo e o grito eufórico da torcida de um clube de futebol perfurava as caixas de sons e sacudia os enfeites leves da mesa de centro, perto da TV. Enquanto o filho caçula brincava, o pai divorciado e muito seguro sobre as coisas importantes da vida tinha um olhar decidido no duelo televisivo. Estava na hora do intervalo, seu time estava ganhando por dois gols de diferença, ele estava orgulhoso por saber escolher seu time e então decidiu dar algum ensinamento a seu filho. O sábio homem limpou a garganta e então disse:

- Filho, hoje vou te ensinar uma grande lição; Você deve encontrar um time e amá-lo para sempre! Nunca trair, desistir ou desacreditar. Um time é para a vida inteira. É a missão de todo homem de bem.

- Como o casamento, certo? - perguntou o filho, animado.

O pai não respondeu. 

O filho continuou:

- A mamãe me ensinou a mesma coisa! Mas ao invés de torcer, amar, acreditar e ser fiel a um time, ela me ensinou que a verdadeira missão de um homem é encontrar uma mulher e amá-la para sempre! Nunca trair, desistir ou desacreditar dela. Pois um amor é para vida inteira. 

O pai sentiu corar o rosto, desligou a TV e saiu do sala. Enquanto saia ainda podia escutar o hino de seu  time cantarolar dentro de sua cabeça, falando sobre paixão, raça e eternidade.