domingo, 25 de maio de 2014

Talvez o amor seja isso; X



Vozes infantis, alegres e femininas cantavam de uma forma ensaiada no quintal gramado de algum vizinho.

- Suco gelado, cabelo arrepiado, qual é a letra do seu namorado? A, B, C, D ...

Duas delas seguravam uma corda nas mãos, fazendo um movimento circular em sentido horário. Uma garotinha de cabelos loiros acompanhava, atenta, o ritmo da corda que desafiava alcançar seus pequenos pés - ela estava entre as duas outras garotas, ela pulava a corda.

- I, J, K, L ...

A franja de seu cabelo loiro atrapalhava um pouco sua visão. A boca mordia os próprios lábios - da mesma forma que toda mulher faz para distribuir igualmente o excesso, quando termina de passar seu batom vermelho-sangue em sua boca de mulher -, sua língua pendia um pouco para fora de uma maneira vergonhosa e tímida - e isso era a exteriorização da concentração que a arrodeava aquele instante. Ela sabia que faltava pouco, apenas três letras.
 
- P, Q, R.

A pequena garota estava decidida. Ela pulou por 18 vezes, deixando a corda estalar no chão gramado. Depois ela simplesmente parou e seu calcanhar direito sentiu o golpe leve da corda no mesmo instante que a letra 'R' era musicada por vozes alegres. Ela sorria orgulhosa e confiante.

As outras garotas taparam a boca e riram baixinho. Elas sabiam muito bem o por que desse esforço voluntário de não poder contar com a sorte para algo tão importante como o amor.

A garotinha loira suspirou em forma de alívio e sentiu o sangue se acumular nas bochechas do seu rostinho. Um pouco depois de corar a maça da face de vermelho, ela tapou, com as mãos, sua timidez e aquele amor de criança; o amor mais puro que alguém pode ter.

Talvez o amor seja isso; saber que existe o poder da escolha no limiar invisível de cada oportunidade que o destino nos dar de escolher a quem amar e, saber escolher até em brincadeiras, essas pequenas chances que a vida nos dá de demonstrar esse amor para os amigos, para ele ou ela e, principalmente, para nós mesmos.