quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Não existe amor em BSB ♪



O ponteiro menor do relógio da praça da cidade mirava para o 11. O mormaço presenteava acúmulos salgados de água em buços femininos, que eram limpos com as costas das mãos de mulheres apressadas que passavam por ali. Homens ansiosos tentavam disfarçar as rodelas de suor que encharcavam a parte da axila de suas camisas claras. A cidade estava distraída, e talvez por isso ninguém tenha reparado na fonte; ela chorava rios d'água e o sol banhava todas elas, porém as mais solitárias delas frutificavam um fenômeno óptico incrível: o arco-íris. Alguns moradores de rua calçavam sandálias menores que seus pés e pediam ajuda, mendigavam sempre ágeis e rápidos - pela comida ou pelo cigarro. A fome e o vício tinham pressa, mas isso não envolvia um casal de cegos. Eles conversavam baixinho, feito uma prece, e sorriam um para o outro. Eles tinham calma, dançavam valsa, sempre atentos ao som, ao tato, ao cheiro, e sentiam o prazer de não serem amaldiçoados com a visão - ela é enganadora, ela te trai. Cupidos decepcionados jogaram fora seus arcos e flechas, e se aposentam. O amor é uma piada. Amores à primeira vista são impossíveis nesse mar de tecnologia, a cidade está muito ocupada deslizando seus polegares nas telas de seus smartphones.

O cego pegou na mão de seu arco-íris.

Ela deu um riso gordo.

E eu descobri que a mola propulsora para o desamor é a desatenção e a falta de tempo para nós mesmos.

Um comentário:

  1. Ainda há de haver alguém que esqueça que tem um celular na presença do outro, e que insista em passear de mãos dadas e rolar na grama do parque da cidade, ou dançar aquela música só deles, findando tudo em um beijo apaixonado. Ainda há de haver alguém que nos transborde em todo e qualquer sentido. ♥

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