sábado, 12 de janeiro de 2013

I do, so what ?





Quem sabe eu serei um daqueles velhinhos com a cara simpática, que carrega o molho de chaves na saliência da calça, por onde passa o cinto, e as deixa cair suavemente no fundo do bolso traseiro. Sempre com um conselho na ponta da língua e algumas pratas no fundo do bolso. E quando as velas custem mais caro que o bolo, eu espero ter largas marcas de riso espalhadas pelo rosto já surrado pelo tempo, delineando assim uma vida de alegria e harmonia. Um daqueles velhinhos que tem a paciência de um pavio de vela queimando, a tranquilidade de um domingo a tarde. Tragando um cachimbo, contando histórias de terror em volta da fogueira pros amiguinhos de meus netos e netas. Então eu reclamaria e protestaria, como um bom idoso faria, que estou numa carcaça velha demais para um espírito tão jovem. Como a criança dentro de mim irá brincar de futebol, sendo que o receptáculo está caindo aos pedaços? Faria essa piada sem graça no lugar mais privilegiado da mesa de jantar, durante o natal onde a família estaria toda reunida. Todos iriam rir e eu agradeceria, em silêncio, por ter essa vida, com um sorriso no canto do rosto. Sem graça olharia para meus pés, depois para minhas mãos, enfim para meu dedo anelar esquerdo e veria aquela circunferência dourada perfeita, com a latitude e a longitude do nosso primeiro beijo gravados pelo lado de fora da aliança. Depois olharia para meu lado direto e lá estaria minha esposa com um rosto tão judiado pelas páginas do calendário e um sorriso, o mesmo sorriso de 31 anos atrás. O mesmo brilho dos olhos, a franja do cabelo pro mesmo lado de sempre. A mesma vergonha da nudez, o mesmo sentimento. Contaria de novo e outra vez a história do beijo com vontade que acabou com o aplique entre meus dedos, não foi nada romântico mas até hoje rende boas gargalhadas. O espelho denunciaria o prateado em meus cabelos arrumados na bagunça e o grisalho da minha barba por fazer. Também deletaria meus olhos cansados e minha alegria em viver, estampado em cada engelhado de minha fisionomia amigável. Olharia para trás, para minha juventude, apenas para balançar a cabeça, para cima e para baixo, afirmando minha escolhas, apreciando meus caminhos. Faria esse gesto aplaudindo em silencio, orgulhoso de mim mesmo.

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