sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A cura

Mãos suadas, borboletas no estômago, coração acelerado. Essa doença faz você apontar um lápis e escrever um poema gigante sobre o vestido amarelo e florido que ela sempre usa para reler seu livro predileto no parque da cidade aos finais de semana. Te faz escrever os detalhes; dizer algo sobre os  cabelos negros e brilhosos, presos por uma presilha da cor do seu vestuário, enquanto se delicia com a brisa de final de fevereiro, que corre suavemente entre as folhas, frutos e alcança seus óculos de leitura e seu rosto, secando o pingo de suor que se formava ligeiramente um pouco a cima de sua boca angelical e macia. Esse parasita, as vezes benigno, faria você expressar-se por manuscrito o quanto admira o fato do mundo pular carnaval enquanto ela relaxa sentada no frescor da sombra de um nogueira bem alta, em pleno verão tropical do hemisfério sul. Reler mensagens, ligações embriagadas na madrugada, escrever o nome dela no box do banheiro durante o banho quente. Outro prognóstico para essa cruel infecção seria o rapaz escrever músicas que fala sobre o jeito como ela levanta um dos pés no clímax e no final do beijo, como uma assinatura, como uma rubrica. Compor e musicar como é incrível o fato do corpo dela se enrijecer quando ela põe o pé descalço no chão frio, como ela se abraça e esfrega seu próprio corpo para espantar o frescor gélido indesejado. Esse câncer te obriga a gravar um CD com canções para épocas menstruais, comprar um sorvete e passar a tarde inteira alisando a barriga dela para aliviar suas cólicas. Faz você a não acreditar que seja real, faz você pedir um beliscão a cada noite de amor com óleos sensuais e músicas de fundo. Tá na cara que essa enfermidade se chama paixão. Todo mundo consegue diagnosticar um sintoma de amor, mas será que alguém tem o remédio para curar esse mal?

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