quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Estrela cadente e mágica

Os últimos raios de sol se despediam, com pesar, do casal apaixonado fazendo deliciosos pecados e saliências em frente a uma igreja. Desdenhado o local em que enamoravam, o rapaz de sorriso malandreado tentava convencer sua donzela de que seus atos entusiasmados de carícia não lhes apontariam o dedo, não os julgariam, pois não estavam violando nenhuma lei celestial. Com um sorriso genuíno e com cabelos cheirando a lavanda, Epitáfio disse:

- Não se preocupe! O amor é um influente argumento a favor da misericórdia divina. Se o mundo acabasse hoje, seríamos arrebatados pela graça do nosso beijo, e pelo sorriso que damos, entre um e outro afago.

Enquanto Epitáfio dizia inúmeras desculpas para a convencer de continuar com o pequeno delito espiritual, ela o olhou bem no fundo dos olhos e pode perceber a parede da retina pintada com uma forte cor-de-pinho e um perfume doce saindo dos poros de seu pescoço. Ela ensurdeceu, estava submersa e seca, sonhando acordada. Michele sentiu o frio beijando sua nuca enquanto se arrupiava e praguejava silenciosamente por não ter uma blusa de frio por perto para esconder o enrijecer de seus mamilos rosados. Ela reparou nas luzes laranjadas brotando dos postes acessos, dando um tom sépio as palavras entusiasmadas que saiam em forma de saliva, o que geralmente acontecia quando ele estava eufórico ou excitado demais com algum assunto.

Um beijo inesperado a fez despertar. Ela notou as imperfeições nos dentes de Epitáfio e em sua língua que tinha um tom vermelho-limpo. Michele não tinha forças suficientes para policiar-se e apenas se deixou levar, os olhos cor-de-madeira de Epitáfio lhe roubou de novo toda sua atenção. Com o máximo esforço, Michelle tentou recuperar ao menos o mínimo de sua lucidez e reconheceu que o encarava por tempo demais, e sentiu o sangue se aglomerar nas maçãs de seu rosto. Estava ficando vermelha, ela pudia sentir brasas em sua face.

O que houve? - disse Epitáfio num tom mais amistoso que conseguiu emitir. - Você está com vergonha de mim, garota?

O simples fato de Epitáfio verbalizar o constrangimento escancarado no rosto de Michele, o fez ficar mais forte e mais intenso. Como se apenas pelo ato dele falar que ela é um pássaro, ela sentiria que poderia voar mais alto ainda. Suas palavras era mágicas, e ambos sabiam disso.

Como Epitáfio era mais alto que Michele, ele ficava na rua, um degrau abaixo do meio fio e de Michele, para assim nivelar a estatura de seus corpos. Michele sentiu o vexame lhe abraçar apertado e isso dificultou disfarçar sua timidez. Seu primeiro impulso foi de olhar para baixo, mas sentiu medo de cruzar olhares com seu amado. Então decidiu conferir o céu de poucas estrelas e poucas nuvens, esquivando-se do olhar hipnótico de Epitáfio.

Uma estrela-cadente ali! - Gritou, Michele, meio desajeitada. Seu dedo seguia a estrela conforme ela lentamente ia desaparecendo no céu escuro de Brasília. Michele apontou para a estrela sem medo algum de criar verrugas na ponta de seu dedo - Faça um pedido, Epí.

Ela disse isso mais por susto e alívio do que por vontade de conhecer os desejos mais profundos de Epitáfio. Sentiu o sangue escorrer por dentro de seu rosto, como se a estrela-cadente fosse uma borracha que tirou o vermelho de seu rosto.

Epitáfio seguiu com os olhos o clarão de luz, lembrando das juras feita com amigos de infância sobre o que pediriam caso algum deles encontrarem de fato uma lâmpada mágica ou algo que lhe dessem o direito de ser presenteados. Ele fechou seus olhos e deixou o coração falar. Limpou a gargantaa e disse:

- Não precisa, - sussurrou baixinho. - Estou me deliciando de cada pingo de saliva do seu beijo, estou usando como travesseiro cada nuvem do céu da sua boca. Nesse mundo onde a escassez de sentimento faz as pessoas ficarem desesperados para sentir algo, você me faz acreditar na exceção de ser um despretensioso que ama e é amado. Sei que posso levantar o seu vestido e me divertir com sua virilha antes de brincar com seu ventre. Também sei que posso me espreguiçar no seu colo, em baixo de uma nogueira, e brincar com seus cabelos antes que o sol se deite. Não tenho certeza do que eu gostaria de esmolar dos céus, pois eu sinto que já tenho. Você é meu feriado pessoal e eu deveria agradecer por você existir. Portanto não preciso pedir nada, pois o que eu não desejei, já está se realizando. Eu amo você, Mi.

Um ouvinte distraído não conseguiria enxergar o amor em suas palavras. Seus olhos amadeirados a hipnotizaram e ela gostou disso. Apesar de seu gestual malandro, ela pudia ouvir a verdade saindo entre os dentes divorciados de seu querido Epí. Ela só conseguiu amá-lo mais ainda. De repente seu amor por ele havia se multiplicado feito magia. Como eu disse, suas palavras eram mágicas.

3 comentários:

  1. http://som13.com.br/#/onze20/albums/a-nossa-barraca/michele

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    1. kkk só foi uma música que eu ouvi com o "Michele" e lembrei do texto, mas nada que faça menção um ao outro :) o texto é lindo, e a música não tem nada a ver com ele ..

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