quinta-feira, 13 de março de 2014

Forgive me, Father. II



- Padre, o mundo está perdido! O noticiário mostra o filho matando pai, padastro estuprando enteadas. Gays, lésbicas, ladrões, corruptos, miseráveis e bêbados filhos da puta. A vida pede basta! E eu também! Não aguento mais esse mundo podre!

- O que você cheirou, cara?

- Como disse, padre?

- Procure ver o lado bom.

- Como?

O padre empurrou a vida do cigarro para o fim, apagou o cigarro na madeira do confessionário e guardou a quimba na batina, em um bolso secreto.

- Gosta do pôr-do-sol?

- Sim. Mas o que isso tem a ver com...

O padre o cortou feito cerol.

- E do brilho das estrelas?

- Claro. Mas onde o senhor quer...

Outro corte.

- Filho, você sabia que as cores mais incríveis que um fim de tarde pinta no horizonte depende, em parte, do quanto de poluição existe na ar? Na verdade a luz solar não é amarela e nem vermelha, é branca. E o branco resulta da soma das sete cores do arco-íris - o violeta, o azul, o anil, o verde, o amarelo, o laranja e o vermelho. A nossa percepção do sol muda justamente por causa das irregularidades na camada de ar.

- Não sabia, não, seu padre.

- E você sabia que o brilho que as estrelas que você vê, provavelmente é de uma estrela falecida que provavelmente não existe mais. E que na verdade o que você ver no céu é apenas uma fotografia velha?

- Não. - o rapaz respondeu triste.

- Filho, se você for cético com o mundo, vai acabar perdendo toda a graça da vida. Veja o lado bom.

O rapaz saiu da única capela da pequena cidade e viu um incrível degradê no céu - com muitos tons de laranja e vermelho ocre. O sol estava se deitando sonolento, cansado e doente de tanta impurezas no ar, porém, sem reclamar. O moço viu crescer, sem pressa, um riso em um rosto cheio de marcas de tristezas.

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