domingo, 12 de janeiro de 2014

Ela é puro ecstasy ♪




Enquanto eu beijava e respirava o hálito dos seus lábios mais íntimos, te fazendo gozar, você deu um passo atrás imaginário, Bárbara, e se viu dirigindo seu carro cinza com um cabeludo mordendo todo o interior de sua coxa firme. Ao longe, eu ouvia o som de Guns N' Rose escorregar pra fora do seu rádio FM, abafando o seu gemido alto e seu suspiro rápido, que deliciavam ainda mais o prazer em lamber toda a volta da sua virilha recém depilada. Quando você tremeu de uma forma desajeitada eu pude ouvir o ritmo rápido do seu coração batendo na ponta da minha língua, então eu levantei minha cabeça e vi aquele riso gordo que aplaude silenciosamente a satisfação de um orgasmo bem feito. Depois disso eu encostei minha cabeça no seu ombro, brinquei com a auréola do seu mamilo e apreciei com exagero o que ainda restava daquele pôr-do-sol de cores fortes. A lua surgiu, Bárbara, e depois que fizemos amor em um monumento perto dos ministérios da cidade, eu comecei a rabiscar nossas iniciais dentro de um coração no topo de uma chama que jamais se apagará. E foi exatamente nesse momento que lembrei o dia que te conheci - o dia em que me apaixonei por você.

Foi assim:

Bárbara, você sentou perto de mim e eu disse alguma coisa que te fez sorrir. Depois você disse outra e eu então percebi que queria passar o resto da vida escutando aquela voz despreocupada e boba. Você enrolou um baseado entre um beijo e outro, e eu só queria sabe de brincar com a parte raspada da sua cabeça grande. Bárbara, você tragava fundo, soltava a fumaça na brasa do baseado e depois batia, de leve, o dedo indicador no meio do cigarro de maconha pra deixar cair a cinza morta. Mais tarde você tirou da sua bolsa cafona uma bala e a esfarelou em cima de uma agenda antiga, pegou um cartão de orelhão e fez cinco fileiras de um pó avermelhado - o ecstasy. A alegria me abraçou forte. Bárbara, eu te beijei por horas sem parar e quando abri o olho já era dia. Beijar você era como morder cada pedacinho de nuvem macia do céu de um sábado ensolarado. Beijar você foi comungar o corpo de Cristo na missa de um domingo. "Que beijo gostoso, Jake." você me disse sorrindo, e eu retribuí te beijando um pouco mais. Você me puxou pela mão e arrastou todos meus beijos para o quarto. Na febre daqueles beijos sem fim, não transamos. Você deixou crescer todos os pelos do meio, e isso eu entendi como um protesto pessoal seu contra todos os homens que só te fizeram sofrer, uma forma de dizer para você mesma, Bárbara, que estava cansada disso tudo. E então sobrou tempo para conversar, brincar e sorrir. Adormeci brincando com a pontinha do seu mamilo enquanto você me fazia um cafuné perto da orelha. Dormi segurando seu seio, e quando acordei era meu coração que estava em suas mãos.

E então lá estava eu vandalizando um patrimônio público, terminando de lapidar nossas iniciais dentro de um símbolo carinhoso, enquanto você debruçava seu corpo largo no precipício do lugar e levava, com uma das mãos, o cigarro de maconha até sua boca. Eu uivei alto, e isso te fez sorrir.

Voltamos ao seu carro cinza de mãos dadas e corações atados.

Entre os beijos de adeus dentro do seu carro, você me fez o boquete mais gentil e generoso que já recebi em toda minha vida. O gelado do seu piercing de língua me fazia arrupiar por onde ele deslizava, e naquela hora eu tive certeza de que não queria passear por outras coxas, outras virilhas.

E então você disse:

- Foi incrível, Jake. Foi inesquecível...

Bárbara, meu coração disparou triste e eu senti um aperto no peito. De repente eu tinha certeza de que seria a última vez que te veria. E então foi minha vez de dar um passo atrás imaginário e ver minha vida sem você. E então eu percebi que de todas as drogas que você me apresentou, seu beijo foi a que mais eu viciei.

- Como seria um último beijo? - eu disse.

- Doce, desajeitado e incrivelmente triste. - você respondeu.

E então eu te beijei na triste e absoluta certeza que não sentiria mais o gosto daqueles lábios abundantes em THC.

Você tinha razão, Bárbara.

Foi doce.

Desajeitado.

E incrivelmente triste.

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