sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Prisão Diastema





O olhar perdido cor de neon. Ela as vezes olha para o nada e sorri sozinha, como se lembrasse de uma piada ou soubesse um segredo sobre a vida que ninguém mais sabe. É um sorriso que nasce no canto do lábio, vai crescendo e cria forma. Ele emerge daquela sombra de invisibilidade e, de repente, esse riso meio rouco de mulher vira o norte de toda bússola masculina que tenta encontrar um sentido naquele olhar misterioso, gentil e distante. É tanto sentimento que exala dessa risada ímpar - alegria, simpatia, aventura, harmonia, afeto, fidelidade, amor e um pouco de saudade. Tudo junto! -, que todos acabam extinguindo suas melhores piadas só para ouvir um pouco dessa melodia, como se esse esforço fosse um ingresso para ouvir um pouco mais de 15 segundos da sua banda predileta, e claro que sempre valia a pena. A vontade unanime é laçar o riso dela e dar uma volta com ele por toda a praia; ao pôr-do-sol, ouvindo um reggae e batendo o dedo indicador de leve no baseado para a cinza fazer um rastro de alegria, indicando o caminho de volta no qual ninguém trilhava. O hálito que perfuma essa gargalhada tem uma chuva de feromônio bem pertinho do céu da boca dela, e isso é imã para homens de bem, com a áurea saudável, e assim eles vão flutuando em fila indiana em direção à superfície do seu beijo salgado e abrasador, um beijo nativo à caiçara.

E eu, despretensiosamente, me vi desejando esse riso e esse beijo como meus feriados pessoais, sentindo uma aspiração de ter essa garota como minha companheira perpétua. E foi assim que fiquei preso para sempre no pequeno intervalo entre seus dois dentes da frente, onde todos apelidaram com um eufemismo gentil de Prisão Diastema. A rebelião existe dentro dessas duas barras de porcelana brancas, porém a exigência é sempre ficar enjaulado um pouco mais nesse lar aconchegando e congestionado. A febre desse impulso é tão encorajador que transforma qualquer mortal em um obcecado, e foi exatamente isso que me fez jogar a chave fora. Deslizei gozando no esmalte desses dois dentes livres de cáries, e isso fez minha fé crescer na casa da certeza, certeza absoluta que já não é uma escolha minha estar ou não ali, é um destino já escrito em linhas tortas por mãos trêmulas. E basta à mim aceitar.

Então eu aceitei.

Aceitei o meu destino.

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