quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Partido Das Crianças.



Meu sobrinho, de seis anos, certa vez entrou na sala com uma tristeza nos olhos e uma esperança surrada no colo. Deu pra reparar que ele ainda estava memorizando uma pequena frase, pois ele olhava para cima e mexia um pouco os lábios, como alguém que anota mentalmente um número de telefone e fica repetindo baixinho, como em uma prece, para pode decorar. E disse:

- Titio, passou agora na TV que vai haver outra guerra, e que essa pode ser a última que o planeta pode suportar. A moça do jornal disse também que dois presidentes discutiram e agora eles vão destruir nosso lar. Ela também disse que esses chefes de estados têm enormes exércitos, mas jamais brigam suas próprias batalhas, eles apenas assistem.

Eu mal pudia acreditar na indagação política do meu sobrinho de seis anos...

Ele continuou:

- Tio, uma vez no treino de futebol o capitão do outro time me deu um carrinho por trás e eu caí feio no chão. O time inteiro ficou revoltado! Então eu me levantei, arrumei a braçadeira de capitão no meu braço esquerdo e sorri gentilmente para ele, e isso acalmou todos os outros dez jogadores do meu time. Ele também foi diplomático - apertou minha mão, se desculpou e sorriu, e isso fez os outros dez jogadores do time dele sossegar. Acho que no fundo nós dois sabíamos que se a gente fosse brigar, o jogo iria acabar e a torcida não ia gostar nada disso.

"Grande metáfora", pensei comigo mesmo.

E continuou:

- Sabe, tio, as vezes o que eles precisam é de uma atitude mais amistosa: dar as mãos, sorrir e ter a consciência que a braçadeira de capitão - ou a faixa de presidente -, significa ser responsável pelo time inteiro - ou o país todinho -, e que depende da atitude deles não acabar com o campeonato - ou com o próprio mundo.

Ele saiu da sala desapontado com seu governo.

E foi a partir desse momento da minha vida que eu comecei a pensar em um mundo governado por crianças.

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