quarta-feira, 15 de maio de 2013

Querida, III





15 de Maio de 2013.
Querida,

Eu sempre imaginei que acabaria ao lado de uma ruiva sorridente cheia de dentes, com sardas em abundância esparramadas em pequenos fragmentos por toda maça do rosto, feito pingos de tinta laranja-escuro em um papel branco e macio, perfurado por dois olhos azuis pálidos e cativantes, porém, sem emoção. Amiga da balança e com uma áurea de paz que te deixaria mais leve ainda, feito um sopro do vento acariciando uma cortina branca que moldurava um quarto pintado a mão por um casal de apaixonados, numa tarde chuvosa de uma quarta-feira de cinzas. Uma mulher imperfeita e comum, com duas ou três tímidas varizes nas pernas, algumas estrias em suas curvas e que tenha horror a esmalte borrado ou pontas duplas no cabelo. Uma garota simples e diferente, com calças bocas de sino, alguns shorts largos, penas como brinco e que adora as manhãs de segundas-feiras. Apaixonada por livros de romance e com algum interesse pela história; o mínimo possível, pois eu sei que não tenho saco para discutir sobre o por que dos alemães, um povo com tanta cultura e com uma nata intelectual avançada para sua época, se deixarem levar por um lunático carente, vegetariano, com um bigode tosto e o cabelo feio, penteado pro lado contrário da moda, a convencer tanta gente fazer um genocídio e seduzir a si próprio à lutar por uma pátria que nunca foi o seu berço. Uma sardenta sem grandes ídolos e com uma queda saudável por maconha. Uma garota sem doutrinas ou religiões. Que goste da natureza e que seja boa com os animais. Com algumas tatuagens de flores brotando do calcanhar esquerdo e se deixando morrer nas costas, com cores primárias delicadas e exóticas, e alguma outra em aramaico, arrodeando algum dos braços perto do cotovelo. Sempre desejei alguém que odiasse futebol e preferisse os desenhos de uma manhã sonolenta à assistir o noticiário da noite, sempre catastrófico e triste. Um vulcão com aqueles cabelos de ferrugem vivo, meiga no abraço de rua e decidida andando por aí com os dedos mindinhos entrelaçados, num sinal que estão juntos. Um flerte por música, algumas transas desajeitadas e perigosas. Cheia de cócegas, assim que trisco na sua pele azeda eu vejo enrijecer, com pressa, cada poro do seu corpo magro. Dona de alguns pelos pubianos cor-de-cobre que serão acariciados por uma barba, negra, por fazer, quando eu fosse te beijar nos teus lábios mais íntimos.

Querida, mas a verdade é que sempre fui eclético pra esse negócio de mulher. A minha vaidade e preferencia se dissipam diante de um bom caráter, um lindo par de seios, algumas verdades gordas e um sorriso bem dengoso. Qualquer garota pode ser a minha ruiva, basta ter uma postura feminina sincera e que tenha um magnetismo encantador para me seduzir a orbitar na volta do seu umbigo.

Araújo, Rodrigo.

2 comentários:

  1. Lindo texto, você toca cada pessoa com seu jeito de escrever, esse texto por exemplo, nele você consegue tocar qualquer pessoa fazendo se passar por essa mulher que deseja ! Cada pessoa com sua particularidade se identifica com algum dos desejos ou aparência que descreve na mulher dos seus sonhos !
    Beijos de sua Prima Mayara Kelly !

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  2. Obrigado por ler meus textos, meu amor. Gostei da parte que essa doce mulher é uma magrela, né ?kk <3

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