quinta-feira, 7 de março de 2013

Helianthus annuus




Era fim de tarde e três girassóis conversavam observando o sol despedindo-se de mais um dia. Uma brisa leve roubava, vez ou outra, suas sementes que caiam e alimentavam araras e outras aves com seus óleos comestíveis.

- Esse heliotropismo é um desacato ao nosso livre-arbítrio. - disse o mais velho dos girassóis. - Estou cansado de ver todo-santo-dia a mesma besteira. Já sei de cor todas as cores que pôr-do-sol pode me proporcionar. Minha pupila não dilata de surpresa e nem meu coração pula de alegria! O sol pode me iluminar, mas não me sinto iluminado.

- Sinto a mesma coisa! - disse o maior dos girassóis. - Não entendo porque somos destinados a seguir um deus que não podemos enxergar e que nos castiga com tanta luz. 

- Eu não! - disse o mais sábio. - O sol é o nosso principal alimento espiritual e me sinto lisonjeado em ter o sol como meu orientador pessoal. O sol cuidando de mim do nascente ao poente, isso é um privilégio da natureza, não uma maldição. Amo olhar o degradê do céu e as frestas de luz rasgando as nuvens enquanto o sol se despede de nós. Sinto-me inacreditavelmente grato por fazer parte do fluxo evolutivo, natural e diário, onde tudo se renova. Da perfeição do meio ambiente se faz a magnífica e a angelical harmonia com o ciclo da existência. Com minha raiz eu peço bença a mãe-natureza, e através dos olhos sou abençoado pelo deus-sol. Só tenho motivos para cantar...

Os três passavam pela estrada da mesma oportunidade que a vida oferecia, porém apenas o último girassol conseguia desviar das distrações e decepções que o mundo concedia. 

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