sábado, 1 de dezembro de 2012

war X peace





- Então você se auto-denomina o protetor da natureza mas não está em nenhum movimento ativista contra a matança de golfinhos em Taiji, no Japão, ou batendo de frente no congresso pra tentar impedir que mais um condomínio seja construído em alguma reserva indígena. Não está em grandes guerras porque é um covarde. Não defende o seu país porque é um fraco! Não pense que não jogar alguns papéis de bala no chão irá salvar o mundo. Essas roupas largas com mensagens de paz nunca trarão a calmaria que uma pós guerra consegue trazer. Até a Mona Lisa está caindo aos pedaços e esse mundo podre não tem salvação. A selva é de pedra, melhor olhar por onde pisa, as terras estão cheias de minas que detectam a fraqueza de longe. Posso sentir o cheiro da sua vida de fantasia à quilômetros de distância. Você não passa de um desligado social que pensa que a vida é boa e linda. Não conhece a realidade única, vive em uma bolha, num mundo utópico do qual só você faz parte!

Teófilo disse isso num tom autoritário. Um ouvinte destreinado não perceberia a ira em suas palavras, elas eram amargas e cruéis. Falou tudo isso vestindo a máscara de calma e a disciplina de um bom soldado. As imperfeições na orelha indicava que lutou jiu-jitsu durante alguns anos. Os calos nas mãos revelava uma natureza de labuta intensa, talvez tivera uma infância perdida e o cerrar dos punhos delatava que ela jamais foi recuperada. Seu tom de pele negro lhe dava mais força e presença, sua altura assustava até o maior do gigantes. Sua roupa bem passada gritava autoridade de um severo ditador, um homem que não mudaria de opinião tão fácil.
Deixou apenas 2 minutos morrer no ar, limpou a garganta e continuou:

- Você não está na terra do amor, pelo contrário, você está no inferno rejeitado por Deus e até pelo próprio diabo! Pense no que irá dizer, pois agora você está em águas profundas e perigosas, então, ao menos, finja que sabe nadar!

Do outro lado, um rapaz de nome egípcio, que significa "Filho dos Deuses", ouvia atento as palavras que desdenhavam seu estilo de vida e sua crença de uma forma grosseira e estúpida. Ramsés pudia ver o sangue escorrendo por entre aqueles punhos cerrados, pudia ouvir o choro de tantas almas que aquelas mãos, de unhas bem cortadas, tiraram sem o menor remorso. Suas tatuagem de Rosas  escupiam todo seu braço esquerdo. Seu ombro pendia mais para um lado do que para o outro e, mesmo assim, seu equilíbrio espiritual era mágico. Um rapagão branco de olhos negros. Um jovem magro demais para ser atleta e com ideais fortes demais para ser corrompido pela desesperança.
Absorveu cada palavra feito esponja e replicou calmamente:

- Sou um guerreiro do arco-íris. Acredito que estamos aqui por alguma razão e a minha com certeza não é salvar golfinhos ou fazer algum tipo de protesto. Já existem pessoas destinadas a esse propósito, como o doutor Rick O'Barry por exemplo. Vim aqui para vender uma vírgula para pessoas como o senhor, Sr. Teófilo, que não acreditam mais na vida ou no amor. Não sou covarde, oras! Minha maior guerra é espiritual, é dentro de mim que jogo bombas de esperança todo dia quando acordo pra ver se durmo vencedor toda a noite. Tampouco sou fraco! O patriotismo não vale de nada, lutar por batalhas ou por leis que você não criou e não compreende não te faz mais forte do que eu, prova apenas que o senhor, sr. Teófilo, é alienado e seguiu o que lhe disseram para seguir. E os papéis de balinha de deixo de jogar no chão, eles enchem meu travesseiro para que eu possa dormir sossegado a noite, é um capricho meu na verdade. A abundância da minha roupa transparece a grandeza do meu coração, e o desenho nela estampado é um outdoor das minhas idéias, e as idéias, como o senhor deve saber, são à prova de balas. Lamento informá-lo, mas a única paz depois da guerra é o espanto mudo dos que sobreviveram e dos cadáveres que morreram feito pião em um jogo de xadrez. Não vivo nesse mundo sozinho, pode apostar. Eu somente escolhi não ser mais um câncer na terra, apenas adotei um estilo de vida que procura enxugar, nos rostos das pessoas, as lágrimas que costumam cair por causa de homens como o senhor, de guerras que o senhor promove. O mundo está doente, está tossindo e eu digo que o amor é o único remédio, a cura absoluta!

Ramsés notou que o sr. Teófilo tinha o corte de cabelo padrão e aquela postura militar robotizada. Apostou mentalmente que o sr. Teófilo pertencia a alguma força coercitiva do estado, talvez um general do exército aposentado. E acertou.
Ramsés observou crescer sem pressa um pingo de esperança. Ela se encontrava no calabouço da criaça adormecida e esquecida que o sr. Teófilo não deixava sair para brincar. Ingeriu as informações e disse:

- Eu aposto que o senhor ganhou diversas medalhas por matar pessoas. É com suas próprias mãos que o senhor molda este inferno pessoal. Eu vivo na pátria do  amor e minha bolha de alegria quem protege é o próprio Deus. O senhor, sr. Teófilo, tem um nome lindo e bíblico, significa "O que Deus ama". O senhor pode não acreditar nele, mas garanto que ele acredita no senhor. Pensei em tudo que falei e posso lhe garantir um seguinte; Não desacredite no amor e não verbalize o que não é uma verdade absoluta. Aposto que o senhor trocaria de vida, se pudesse, num estalar de dedos. Então se o senhor quer mesmo cantar essa música triste, então, ao menos, finja que sabe a letra!



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