domingo, 29 de julho de 2012

Sobre Árvore & Biruta



Em algum lugar com samba e risos embriagados, Reginaldo passeava a mão com dedos abertos por entre os cabelos de Helena. Ele tinha aquele jeito de a observar durante alguns segundos antes de dizer algo. Secretamente, Reginaldo pensava que alisar os cabelos femininos de Helena era a mesma coisa que catar um punhado de nuvem. Bagunçando seu penteado fácil de arrumar, sorrindo e fumando, Reginaldo disse:

- Você ficaria muito mais formosa usando a sua franja da forma contrária a habitual.

Arrumando os cabelos, sorrindo e mostrando todos os dentes, Helena respondeu:

- Bobagem, Reginaldo! Pois fique sabendo que minha angelicalidade não depende da direção em que algum pelo do meu corpo toma, e sim em que rumo aponto meu coração nessa vida sem pontos cardeais, nessa vida onde todas as pessoas são cegas e perdidas, e suas muletas e bússolas, são o amores que damos e recebemos.

Reginaldo só conseguiu se concentrar no batom cor-de-rosa e no piercing de língua de Helena. Tentava sentir seu agradável hálito de cigarro e admirar seus olhos enormes e bem redondos. Sentiu pena ao saber que algum tempo atrás seus cabelos passeavam pela cintura, e raiva ao perceber que o dia estava acabando e que ficaria alguns dias sem olhar aquela pintinha charmosa no canto inferior da boca. Com toda essa distração, o pedaço de uma música foi a melhor réplica que conseguiu mencionar.

- Meu pensamento teu sua cor, morena.

Primeiro Helena sorriu alto, depois fez um movimento rápido e o beijou o pescoço, como é de sua mania sempre fazer quando tem a sensação de que está perdidamente apaixonada por esse bobo. Helena não tinha certeza sobre muita coisa, principalmente a respeito de sua sexualidade, mas tinha a compreensão de que príncipe encantado era como um câncer de mama; "Quem procura, na verdade não deseja encontrar." Ela não gostava tanto assim de contos de fadas, preferia mesmo era aquele ator feio e charmoso que é o protagonista de alguma comédia romântica, o bobo. Das poucas certezas que tinha, a mais absoluta era que Reginaldo era seu bobo.

Reginaldo desfrutava de tanto ouvir sentimentos que ela calava. Helena saboreava cada palavrão, cada beijo e cada noite de sono alcoolizado juntos. Então quando Helena se deu conta, já estava imaginando diálogos utópicos com Reginaldo enquanto toma banho ou discursando um pedido de desculpas, por bater tão forte na cara dele, enquanto escovava os dentes. Quando Reginaldo deu por si, já estava escrevendo em um blog, no qual os personagens são pseudônimos de sua própria história.

Um casal de mente aberta e coração fechado. Medo de expor o que sente, o mundo os calou. Mas muita paixão e um pouco de vodka no sangue aumentou a coragem de falar o que os olhos já gritavam! Primeiro Reginaldo disse:

- Helena, eu sou a árvore que pendura sua rede e lhe traz alguma sombra. Águas mansas vai ser nosso hino, branca será nossa bandeira, paz o nosso sobrenome. Você é o anticéptico que limpou minha alma, teu cangote é meu berço e teu sexo meu lar.

Em seguida, Helena respondeu:

- Reginaldo, o dilatar de minha pupila me entrega. O silêncio depois do beijo é sempre uma frase que desejo lhe falar. Está frio e você faz minha mão suar, está calor e você faz meu corpo se arrupiar. Eu sou uma biruta de aeroporto, irei para onde teu vento soprar.

4 comentários:

  1. Eu não sei porque, mas me identifiquei com esse texto rs' ficou lindo, perfeito mesmo, com riqueza de detalhes, algo me diz que Helena e Reginaldo vão ter mais histórias pra contar ...

    Hay

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  2. Rodrigo Sincero Araujo, mandou bem! :)

    Uly,

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    1. Pode crer, brother! Valeu por sempre ler meus textos. Obrigado por sempre pedir o link do meu blog kkk .. É um sentimento mesmo <3

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