quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Talvez o amor seja isso; VI



Os quadros estavam tortos e as cortinas desarrumadas. As fotos do casal feliz nos porta-retratos estavam jogados pela sala, em cacos. A TV estava desligada e nela refletia uma mulher sentada no chão e soluçando, cansada de tanto chorar. Ela usava um vestido florido verde banhado por lágrimas de tristeza, e uma de suas alças estava despencada assim como seu casamento. Havia também um homem com um cigarro aceso entre os dedos com um olhar perdido na aliança de ouro que destacava em sua mão esquerda. A cinza do cigarro estava acumulada nas pontas em forma de ponte, já fazia tempo que não recebia um trago - e isso significava que o fumar foi um ato meditativo para o rapaz. A agulha do rádio apontava o meio do marcador e deixava sair de si um som baixinho e deprimido. O cômodo era palco do término.

A mulher catou fiapos imaginários em seu vestido florido, depois deixou seu olhar escorregar de lado e se viu sendo carregada nos braços por um rapaz alto usando um terno preto com uma flor branca no bolso na altura do peito. Na mesma fotografia ela usava um vestido longo de noiva em cetim e renda com Xale, com pequenas imperfeições que demonstravam que foi bordado por nobres camponesas.

Ela chorou mais ainda lembrando do dia de seu casamento.

Ele também olhou o retrato e se lembrou dos votos, do beijo, da felicidade. Depois disse:

- Foi o dia mais feliz das nossas vidas.

Ela não disse nada.

Ela se levantou jogando o cigarro de lado e a pegou no colo, como no retrato.

Os dois olharam para a foto e viram rostos felizes.

- Na alegria e na tristeza, lembra ? - Disse o rapaz.

Talvez o amor seja isso;  um vagonete de trem. E não importa se a manete é empurrada para cima ou para baixo, o impulso é sempre em direção ao mesmo lugar: para o final feliz.

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