quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O breu



O breu engoliu o meu quarto feito uma garota gorda com apetite, e eu senti os olhos dele me cobrirem como um cobertor gelado e desconfortável. Enquanto me esforçava para não abrir meus olhos, eu pudia sentir ele parado no canto da parede, encolhido, com os olhos arregalados de terror e ódio. O olhar dele pesava sobre mim, como uma puta que grita sem vontade pra satisfazer desejos que não são seus. O calafrio do meu corpo parecia alimentar seu apetite e eu me esforçava, em vão, tentar mostrar uma coragem que não tinha em estoque ali, naquele quarto escuro, dentro de mim. Meu pé escapuliu do cobertor para dias frios, e eu, por um momento, quase senti suas mãos banhadas por um suor frio, como alguém que ameaça cócegas - você sente antes mesmo que os dedos te alcance! Engoli minha própria saliva para matar a sede, pois meu medo era maior que meus instintos de satisfação primário. Me cobri até a cabeça, como se meu cobertor fosse um escudo, e apertei forte os olhos. Bem, ele ainda não foi embora. Eu sinto! Ainda escuto ele tropeçar pela madrugada fazendo pequenos barulho pela casa, a maçaneta da porta ainda tenta um giro fraco de vez em quando e as vezes meu cachorro cego fica parado no pé da porta do meu quarto observando atento a escuridão de seu mundo, deixando sair um rosnado melancólico enquanto suas orelhas ficam em pé de prontidão e seu rabo caído de medo - o que indica que seja lá o que for que ele está olhando, não tem um olhar amigável e, com certeza, não está com uma bolinha nas mãos.

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