sexta-feira, 7 de junho de 2013

Querida, V



07 de Junho de 2013.
Querida,

Eu continuo olhando para esse amor despedaçado, para os cacos dessa paixão e tudo o que eu consigo enxergar é o copo ainda limpo, reluzente, reconstituído e cheio. Ainda ouço o tinindo de quando os copos se abraçavam, comemorando um vitória de corrida ou um brinde de amigos bêbados. Essa louça, de vidro maciço, não foi quebrada por superstição de casa nova, e sim por mãos trêmulas e descuidadas. Eu me concentrava na sua transparência e via tudo de ponta cabeça, seu cristal era translúcido e hipnótico. Era como se você filtrasse a minha loucura e depois normalizasse o meu exagero. Era uma das suas formas de paz, um dos 'porquês' que eu ainda te amo. Eu te enchia de pornografia e você 'fotossínteseava' minha putaria, transformando tudo em amor. Eu te enchia de vodca e você suavizava meu drinque, substituindo tudo por água potável para me poupar da ressaca. Sim, querida, existem outros copos, outras taças, outras louças e eu continuo bebericando meu vinho favorito em quartas-feiras a noite, antes de desenvolver softwares para computadores ou antes de escrever algum texto no meu blog, escutando um pouco de Cássia Eller, Skank ou S.O.J.A. Mas o sabor é diferente. Meu paladar empoeira e varre esse hóspede hostil pra bem longe ao beijar outra taça. Meu palato reúne nuvens negras e carregadas ao ser inundado por essa textura cosmética e inóspita. O vinho é o mesmo, mas o gosto é desfigurado, é sujo! Até parece que o sabor estava no copo, não no vinho. Até parece que o meu amor estava em você, não em mim.

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