quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O que o silêncio gritou . .




Ela veio com um sorriso brilhante feito luz de neon. Olhos verdes, exatamente como dois oceanos de águas claras, dois mananciais que te afogam com apenas uma gota. Era alta e o vento parecia brincar com seus cabelos. Tinha esse gestual excessivo e a pele firme da cor da noite. Desfilava suas pernas magras bem divididas e seu corpo saliente como se estivesse numa passarela, num desfile. Semelhança a uma modelo, nem parecia ser uma simples garçonete de um humilde restaurante de alguma pequena cidade esquecida pela tecnologia.

- Bom dia. - disse ela.
- Bo ..  Bom di.. di .. dia. - disse meu amigo Djorkaeff, um pouco sem jeito. Não era gago, mas pareceu que as palavras lhe fugiam.
- O que irão querer?

Percebi o desejo no olhar do meu amigo, se carregasse comigo um espelho poderia ver esse mesmo olhar em meus olhos. Se o gênio de uma lâmpada qualquer desse as caras por aqui, já saberia os três desejos do meu amigo: Ela, ela e ela! Seus pensamentos pareciam gritar, mas só eu podia escutar. Suando frio, pés apontados em direção a moça. Peito estufado, mãos no bolso e polegares a mostra. Olhos atentos no pequeno decote na blusa da moça. Boquiaberta! Não disse sequer uma palavra, mas sua linguagem corporal berrava o que ele mais queria.

- E então, o que desejam?! - Disse ela já sem paciência.
- ...

Sua rudez me chamou atenção. Talvez ela sem o amargo de uma criação tão severa e sem o azedo de suas palavras, o doce do meu desejo não seria tão doce assim. Ao notar que meu amigo ficou mudo, talvez engasgado com seus próprios pensamentos, ela começou a olhar para mim. Aposto que pensou que eu tivesse a sapiência natural de fazer meu pedido

- E você? Vai querer algo?! - Disse ela com um tom irônico, já tentando se acalmar e aceitando o inevitável flerte.

Contemplando a mudança radical e falsa de humor, não pude deixar de perceber o sarcasmo vindo dos lábios recém banhados pela saliva mais desejada da região. Não deixei de notar também nas curvas exuberantes e no semblante desenhado pelo próprio Deus. Respondi inteligentemente e com um tom de zombaria:

- O mesmo que ele, por favor!

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