04 de agosto de 2015.
Querida Karen,
Era uma terça-feira de agosto e nós andávamos por aí, à toa, sem destino, pela rua, sem rumo. O vento suave, não fazia frio, o céu estrelado, a noite sem lua. Um dia normal. Deitamos na grama.
Naquele dia eu te falei sobre as estrelas.
- Como são lindas. - você disse.
- Muito.
E era mesmo.
- Sabe, Karen - eu disse, olhando para o céu -, alguma delas já morreram, e a luz que nós ainda vemos, e apreciamos, são apenas um retrato antigo de alguns astros mortos que insistem em aparecer, como os fantasmas.
- Mas ainda brilham. Veja.
E, com um olho fechado e o outro aberto - feito mira -, você apontou seu dedo indicador para o céu escuro como se sua vida dependesse disso. Você sorria com os olhos.
- É, eu sei, é lindo.
E eu admirei o vento morno brincando com sua franga loira.
- Hank, então por quê ainda brilham se estão mortas ?
- Algumas coisas nunca deixam de brilhar, mesmo mortas. - eu disse me lembrando do tempo sem você, e de como eu acreditei em nós quando ninguém mais acreditava, nem você. - Mortas como Jesus, Buda, Bob Marley e Gandhi. Essas estrelas também nunca vão deixar de brilhar. - eu disse fazendo graça.
Você sorriu, Karen.
- Por causa da distância. - eu disse, respondendo sua pergunta de uma forma mais séria - Algumas delas estão a mais de 800 anos-luz da terra, e é por causa desse atraso que nós ainda vemos sua luz.
Você absorvia tudo feito esponja.
- Você não devia mais reclamar dos meus atrasos, Karen. - eu disse sorrindo.
- Bobo. Aposto que se eu me atrasar você não vai pensar o mesmo.
- Depende. Se não for a sua menstruação.
E você riu mais ainda. Com os olhos injetados, a boca bem aberta, desajeitada.
Depois se calou. De repente você ficou triste.
- Então tudo está se acabando aos poucos ? - você perguntou assustada, sentindo o medo de não mais existir mitos e lendas que dizem que seus dedos vão se encher de verrugas por apontar as estrelas.
- Claro que não. Quando uma estrela falece, ela explode e aí criam-se corpos-celestes, chamados de supernova, cuja a massa é aproximadamente 10 vezes superior à massa do nosso astro-rei, o sol. Karen, então quando uma estrela deixa de viver, na verdade ela ...
- Ela cria mais vidas, mais estrelas, mais luzes. - você completou a frase aliviada, como se tirasse todo o gosto insosso da sua boca só de mastigar essa ideia.
- Isso, Karen.
Te beijei sorrindo.
- No fundo, as estrelas são como o nosso amor, Hank. - você disse.
E eu ri, sorri estalando meus dedos - talvez me punindo por zombar de uma verdade em que acreditava como religião. E então me senti como um cristão gargalhando de uma piada herege.
- No fundo, bem no fundo, são mesmo.
Eu disse satisfeito, com o cruzeiro do sul deitado ao meu lado - de cabelo loiro, de riso largo, de perfume lindo, usando vestido florido rosa e que sempre apontava minha bússola para seu norte.
Unfaithfully yours,
Hank.
Hank.
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