- Eu não aguento mais isso, padre. Por quê eu sofro tanta injustiça? Eu tenho orgulho da minha cor. Por que o mundo é tão preconceituoso afinal?
- Porque o homem é um grande filho da puta!
O padre disse isso em um tom triste e agressivo. Sua voz ainda sangrava, talvez por ter conhecido a discriminação na própria cor da sua pele.
- Queria que todos nós fossemos cegos - desejou o rapaz, de uma forma desajeitada, tentando dar um ar de esperança. -, talvez assim o preconceito seria obsoleto em uma sociedade que enxerga apenas com coração.
- Duvido muito, filho. - desacreditou o padre.
- Por quê?
- Porque o homem iria achar a porra de um jeito para dividir as pessoas, acredite!
- Mas como? - insistiu o rapaz.
- Eu tenho certeza que se todos nós fôssemos cegos, ele iria ser preconceituoso com o timbre da própria voz; e assim quem falasse mais grosso seria melhor que o outro. E o resto da história você já conhece...
O padre deixou a frase morrer no ar. Fechou a mão, apertando forte o ponho, a unha rasgando o tecido da palma da mão. E disse da forma mais triste que pode reunir:
- Tiago capítulo 2, versículo 9.
- O que diz lá?
- "Mas, se fazeis acepção de pessoas, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores."
O padre pensou sobre o que disse, e perguntou:
- Sabe qual é a pior raça na verdade?
- Qual? - perguntou o rapaz de uma forma curiosa.
- A humana!
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