sexta-feira, 26 de junho de 2015
Forgive me, Father. VIII
- Perdão, padre. Eu pequei.
A voz deslizava da boca de um jovem adolescente. Devia ter uns 18 ou 19 anos. Loiro, de avô negro. Gordo, porém o pai e mãe eram magros. Ele disse da forma mais triste que pôde reunir, e com a sinceridade mais sólida entre as certezas inquebráveis desse mundo inconstante.
- Não é pecado ser gordo - disse o padre em um tom de sarcasmo.
O garoto franziu o senho, foi uma mistura de terror e surpresa.
A piada não caiu bem, pensou o padre.
- A não ser pela gula - enfatizou o padre, tentando animar o rapaz gorducho de cabeleiro cor-de-trigo.
O rapaz chorou um choro terrível.
O padre sentiu vergonha, enrolou o cabelo e catou fiapos invisíveis pela batina. Depois pediu, dessa vez em um tom sério, para que o rapaz continuasse a confissão.
- Desculpe, filho. - baforou o cigarro e deixou que morresse no chão frio do solo -. Continue, por favor.
- Padre, menti para o meu melhor amigo. Quero seu perdão.
Pela primeira vez, em muita confissões, o padre se emocionou. Não acreditava que aquele tipo de pureza genuína ainda existisse nesse inferno que é a terra.
- Filho, vá para casa e agradeça a Deus - qualquer deus, pensou o padre -. Agradeça por ter esse coração bom que você tem. Não se desculpe, por favor.
E o padre chorou pela primeira vez em anos. Foi um choro de esperança e pena.
Nesse dia, o padre rezou o terço com o joelho sobre o milho.
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