terça-feira, 4 de novembro de 2014
Apito para cães
"Eu amo você."
Pensei ter escutado essa três palavras saírem pela sua boca tão feminina. Engano meu, um amigo se apressou em dizer.
- Ela não disse isso. Garanto!
Mágica. E de novo eu escutei algo que você não disse. Ou talvez meu amigo não teve a sensibilidade para escutar e só eu ouvi, como um apito para cães.
- Você não fala com ela há anos, cara.
Um estranho. O abraço é desajeitado, o adeus sai tropeçando as vogais. E até um beijo no rosto que eu lhe roubo, tenho que pedir com licença e por favor..
- Ela não te ama mais, amigo.
- Mas eu sim.
Talvez meu amigo não saiba que o amor não é uma ficha telefônica que te permite ouvir a voz de quem se ama. O amor desliza pro lado da filantropia, da caridade, da benevolência e da compaixão. E se o amor fosse um bilhete caro para entrar em um parque, eu me divertiria aqui mesmo, do lado de fora, comendo meu algodão doce da cor dos seus cabelos loiros.
- Idiota.
Silêncio total.
- Desculpe, cara, não quis te ofender. Não fique chateado.
E então eu sorri.
- Viu?
- O quê? - ele perguntou surpreso.
- Não te disse uma palavra e você percebeu algo.
- Sim, mas ..
- O silêncio pode te dizer muitas coisas. Como apito para cães, sabe?
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