E eu me apaixonar nunca foi um pulo repentino, geralmente é um processo gradual. É como andar de bicicleta; Primeiro com rodinhas: com cuidado e um pouco de medo, ainda preciso me equilibrar, me adaptar a ela e torcer pra não cair. Depois sem as mãos: é a parte que você cai, levanta e tenta de novo, ou sente medo, trauma e guarda tudo no porão para sempre. Sempre me machuquei e nunca fui do tipo de gostar de equipamentos de segurança. A ilusão da segurança é uma puta! Casamentos e saídas de emergência em aviões que voam a três mil e quinhentos metros de altura são um bom exemplo. Arranhões, feridas, machucados e finalmente o dia em que eu morri por viver. Sangue por todo lado, lágrimas e uma garrafa de vodka. Até hoje lembro do sermão que meu coração me disse, foi mais ou menos assim: "Seu filho da puta! Sempre que me apaixono por alguém você insiste em não aceitar isso. Luta sozinho e sem armas contra o todo poderoso amor. É como se uma onda lutasse contra todo o oceano, uma folha com a árvore, um grão de areia contra o imenso deserto. Não fuja, não julgue e não desminta o que você ainda não consegue entender por completo. Só mais uma coisa, seu puto! Eu nasci pra bater, não foi pra apanhar." Como se a culpa fosse minha por me lembrar de uma queda feia sempre que vejo minha cicatriz que as vezes ainda sangra e me faz chorar. Tenho medo porque sempre que me apaixono por alguém, essa pessoa se trasforma em um gato e eu tenho que comer todas suas sete vidas. E eu passo o dia inteiro digerindo ela, cada dia da semana me dedicando a isso. Tenho que me vestir com sua alma, não para completar a minha, apenas e só para enfeitar e discernir como você vê a vida e sente o amor. Para isso não acontecer e me dar uma má digestão, prefiro recuar e digo "não sinto vontade", "tenho medo", "não estou preparado ainda", frequentemente são algumas das portas que uso para acabar entrando na mesma casa; A casa do não-compromisso sério, porra! Ah, não é fugir, é apenas uma auto-defesa programada pelo meu cérebro para que meu coração não sofra. A razão ajudando a emoção.
... E se eu vestir minha armadura e entrar no meio dessa guerra que está dentro de mim, acho que estou desesperadamente pedindo pra que você não só segure minha mão enquanto eu crio coragem e aprendo a andar de bicicleta de novo, como estou pedindo também que seja o meu freio e meu impulso. Meu acento e meu equilíbrio. Minha bússula e minha proteção. E principalmente meu guia e minha direção.